Neste dia 06 de
janeiro, quando celebramos a solenidade da Epifania do Senhor, temos em mente
três figuras que a Tradição da Igreja venera com muita estima: Gaspar, Baltazar
e Melchior. Tenho sempre em mente aquelas belíssimas toadas dos famosos “terno
de reis”. Tão profundas melodias e rimadas letras que nada mais querem a não
ser homenagear o Salvador que, feito homem, manifesta-se às nações “como luz
para iluminar todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania).
Enfim,
dispensando os comentários teológicos e litúrgicos da Epifania e dos Magos em
si, um evento (e porque não dizer memorável) marcou profundamente a vida da
Igreja, da Cúria Romana e do nosso amado Vigário de Cristo e sucessor de São
Pedro: a sagração episcopal de 4 novos bispos durante a Santa Missa da
Epifania, na Basílica Vaticana, nesta manhã às 9 horas (horário local).
Os nomes
daqueles ‘eleitos’ são: Mons. Angelo Vincenzo Zani, do clero de Brescia, 62
anos, nomeado Secretário da Congregação para a Educação Cristã; Mons. Fortunatus
Nwachukwu, do clero de Aba (Nigéria), 51 anos, nomeado Núncio Apostólico na
Nicarágua e Mons. Nicolas Henry Marie Denis Thevenin, francês, da Arquidiocese de
Gênova.
Mas não são 4?
São; e por isso que disse anteriormente que esta é uma celebração especial ao
Santo Padre, pois o quarto antístite é justamente Mons. Georg Gänswein, seu
secretário pessoal até então, do clero da diocese de Freiburg im Breisgau
(Alemanha), 55 anos, nomeado Prefeito da Casa Pontifícia.
Tendo acompanhado
a celebração, posso afirmar: foi uma Solene Celebração, digna realmente de um Pontifical.
Mais uma vez enchemos os olhos e o espírito com o verdadeiro zelo litúrgico e
eclesial.
O Santo Padre
adentrou a Basílica Vaticana triunfalmente, paramentado dignamente, destacando
uma belíssima casula romana, já usada por ele em poucas vezes anteriores, e seu
(já costumeiro) fanon.
Se tratando do Doce Cristo na terra, não cansamos de
rezar: Ad multos annos, Sancte Pater.
Tal modelo de casula (romana) também foi usada pelos que seriam sagrados e
pelos co-sagrantes.
Outro detalhe
que me chamou a atenção (também já feito pelo Papa) foi o modo de incensar o
altar. Sabemos que o Papa não goza de tanta saúde e disposição como antes, e
que qualquer esforço maior é motivo de fadiga para um idoso com tantas
responsabilidades como Sua Santidade. Porém esse é um motivo que não foi o
primeiro a me vir à mente. Claro que, aos apreciadores do zelo e da arte
litúrgica, parece-nos bem oportuno que o modo de incensar do Santo Padre no
início desta celebração resgata o modo e costume de incensar do antigo (embora
eu não concorde com este termo) e extraordinário rito. E ainda alguns ousam
dizer que os dois modos de celebrar (o mesmo rito) se contrapõem? Enfim!
O magnífico
Coral da Sistina nesta manhã também surpreendeu ao cantar associado ao Coro
Palestrina da Pró-Catedral de Dublin.
Em certa altura
da Missa, fiquei encabulado com os pés dos que estavam sendo ordenados. E sim! Mesmo
não querendo acreditar constatei: eles estavam usando meias viloáceas, conforme prescrito. Quanto tempo não
as via nas celebrações pontificais!
Dentre tantos
momentos, um em especial me chamou a atenção: propriamente quando Sua Santidade
entrega o báculo à Mons. Gänswein, fixa em seus olhos e com “voz grave e solene”
pronuncia regere Ecclesiam Dei, da
oração “Recebe o báculo, símbolo do múnus de pastor, e cuida de todo o rebanho no
qual o Espírito Santo te constituiu como Bispo, para regeres a Igreja de Deus”.
Quem tiver oportunidade pode assistir ao vídeo da celebração e sentir a emoção
deste momento.
São tantas
outras as ponderações e observações que tinha a fazer, mas vejo que as já
feitas são suficientes por agora. Creio que voltar-se para a homilia do Papa é
opinião mais segura e salutar, até mesmo porque é ensinamento firme e seguro. Quero
me ater a alguns trechos de sua homilia (não surpreendido por ser bela e
profunda). Não coloco comentários meus para não tirar o brilho de tão grandes
ensinamentos. Reitero que não transcrevo-a inteira, porém algumas partes que
(indignamente) julguei oportuno:
Para a Igreja
crente e orante, os Magos do Oriente, que, guiados pela estrela, encontraram o
caminho para o presépio de Belém, são apenas o princípio duma grande procissão que permeia a história.
Seguindo uma
tradição iniciada pelo Beato Papa João Paulo II, celebramos a festa da Epifania
também como dia da Ordenação episcopal de quatro sacerdotes que daqui em diante
irão colaborar, em diferentes funções, com o Ministério do Papa em prol da unidade da única Igreja de Jesus
Cristo na pluralidade das Igrejas particulares. A conexão entre esta
Ordenação episcopal e o tema da peregrinação dos povos para Jesus Cristo é
evidente. O Bispo tem a missão não apenas de se incorporar nesta peregrinação
juntamente com os demais, mas de ir à
frente e indicar a estrada.
Os homens que
então partiram rumo ao desconhecido eram, em definitiva, pessoas de coração
inquieto; homens inquietos movidos pela
busca de Deus e da salvação do mundo; homens à espera, que não se
contentavam com seus rendimentos assegurados e com uma posição social
provavelmente considerável, mas andavam à
procura da realidade maior. Talvez fossem homens eruditos, que tinham
grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também duma formação
filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial,
queriam saber como se consegue ser pessoa humana.
Um Bispo deve
ser um homem que tem a peito os outros
homens, que se deixa tocar pelas vicissitudes humanas. Deve ser um homem para
os outros; mas só poderá sê-lo realmente, se for um homem conquistado por Deus:
se, para ele, a inquietação por Deus se tornou uma inquietação pela sua
criatura, o homem. Como os Magos do Oriente, também um Bispo não deve ser
alguém que se limita a exercer o seu ofício, sem se importar com mais nada; mas
deve deixar-se absorver pela inquietação
de Deus com os homens. Deve, por assim dizer, pensar e sentir em sintonia com
Deus.
A peregrinação interior da fé para Deus
realiza-se sobretudo na oração. Santo Agostinho disse certa vez que a oração, em última análise, nada mais
seria do que a atualização e a radicalização do nosso desejo de Deus.
O Bispo, como peregrino de Deus, deve ser
sobretudo um homem que reza, deve viver em permanente contato interior com
Deus; a sua alma deve estar aberta de par em par a Deus. As dificuldades
suas e dos outros bem como as suas alegrias e as dos demais deve levá-las a
Deus e assim, a seu modo, estabelecer o
contato entre Deus e o mundo na comunhão com Cristo, para que a luz de Cristo
brilhe no mundo.
Os Magos
seguiram a estrela e assim chegaram a Jesus, à grande Luz que, vindo ao mundo,
ilumina todo o homem. Como peregrinos da fé, os Magos tornaram-se eles mesmos
estrelas que brilham no céu da história e nos indicam a estrada. Os santos são as verdadeiras constelações
de Deus, que iluminam as noites deste mundo e nos guiam. [...] Queridos
amigos, isto diz respeito também a nós. Isto diz respeito sobretudo a vós que
ides agora ser ordenados Bispos da Igreja de Jesus Cristo. Se viverdes com
Cristo, ligados a Ele novamente no Sacramento, então também vós vos tornareis
sábios; então tornar-vos-ei astros que vão à frente dos homens e indicam-lhes o
caminho certo da vida.
Rezamos a
Maria, que mostrou aos Magos o novo Rei do mundo, para que, como Mãe amorosa, mostre Jesus Cristo também a vós e vos
ajude a serem indicadores da estrada que leva a Ele.
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