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domingo, 6 de janeiro de 2013

Solenidade da Epifania e Sagração de novos bispos



Neste dia 06 de janeiro, quando celebramos a solenidade da Epifania do Senhor, temos em mente três figuras que a Tradição da Igreja venera com muita estima: Gaspar, Baltazar e Melchior. Tenho sempre em mente aquelas belíssimas toadas dos famosos “terno de reis”. Tão profundas melodias e rimadas letras que nada mais querem a não ser homenagear o Salvador que, feito homem, manifesta-se às nações “como luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania).
Enfim, dispensando os comentários teológicos e litúrgicos da Epifania e dos Magos em si, um evento (e porque não dizer memorável) marcou profundamente a vida da Igreja, da Cúria Romana e do nosso amado Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro: a sagração episcopal de 4 novos bispos durante a Santa Missa da Epifania, na Basílica Vaticana, nesta manhã às 9 horas (horário local).

 

Os nomes daqueles ‘eleitos’ são: Mons. Angelo Vincenzo Zani, do clero de Brescia, 62 anos, nomeado Secretário da Congregação para a Educação Cristã; Mons. Fortunatus Nwachukwu, do clero de Aba (Nigéria), 51 anos, nomeado Núncio Apostólico na Nicarágua e Mons. Nicolas Henry Marie Denis Thevenin, francês, da Arquidiocese de Gênova.


Mas não são 4? São; e por isso que disse anteriormente que esta é uma celebração especial ao Santo Padre, pois o quarto antístite é justamente Mons. Georg Gänswein, seu secretário pessoal até então, do clero da diocese de Freiburg im Breisgau (Alemanha), 55 anos, nomeado Prefeito da Casa Pontifícia.


Tendo acompanhado a celebração, posso afirmar: foi uma Solene Celebração, digna realmente de um Pontifical. Mais uma vez enchemos os olhos e o espírito com o verdadeiro zelo litúrgico e eclesial.


O Santo Padre adentrou a Basílica Vaticana triunfalmente, paramentado dignamente, destacando uma belíssima casula romana, já usada por ele em poucas vezes anteriores, e seu (já costumeiro) fanon. 


Se tratando do Doce Cristo na terra, não cansamos de rezar: Ad multos annos, Sancte Pater. Tal modelo de casula (romana) também foi usada pelos que seriam sagrados e pelos co-sagrantes.


Outro detalhe que me chamou a atenção (também já feito pelo Papa) foi o modo de incensar o altar. Sabemos que o Papa não goza de tanta saúde e disposição como antes, e que qualquer esforço maior é motivo de fadiga para um idoso com tantas responsabilidades como Sua Santidade. Porém esse é um motivo que não foi o primeiro a me vir à mente. Claro que, aos apreciadores do zelo e da arte litúrgica, parece-nos bem oportuno que o modo de incensar do Santo Padre no início desta celebração resgata o modo e costume de incensar do antigo (embora eu não concorde com este termo) e extraordinário rito. E ainda alguns ousam dizer que os dois modos de celebrar (o mesmo rito) se contrapõem? Enfim!
O magnífico Coral da Sistina nesta manhã também surpreendeu ao cantar associado ao Coro Palestrina da Pró-Catedral de Dublin.
Em certa altura da Missa, fiquei encabulado com os pés dos que estavam sendo ordenados. E sim! Mesmo não querendo acreditar constatei: eles estavam usando meias viloáceas, conforme prescrito. Quanto tempo não as via nas celebrações pontificais!


Dentre tantos momentos, um em especial me chamou a atenção: propriamente quando Sua Santidade entrega o báculo à Mons. Gänswein, fixa em seus olhos e com “voz grave e solene” pronuncia regere Ecclesiam Dei, da oração “Recebe o báculo, símbolo do múnus de pastor, e cuida de todo o rebanho no qual o Espírito Santo te constituiu como Bispo, para regeres a Igreja de Deus”. Quem tiver oportunidade pode assistir ao vídeo da celebração e sentir a emoção deste momento.








São tantas outras as ponderações e observações que tinha a fazer, mas vejo que as já feitas são suficientes por agora. Creio que voltar-se para a homilia do Papa é opinião mais segura e salutar, até mesmo porque é ensinamento firme e seguro. Quero me ater a alguns trechos de sua homilia (não surpreendido por ser bela e profunda). Não coloco comentários meus para não tirar o brilho de tão grandes ensinamentos. Reitero que não transcrevo-a inteira, porém algumas partes que (indignamente) julguei oportuno:

Para a Igreja crente e orante, os Magos do Oriente, que, guiados pela estrela, encontraram o caminho para o presépio de Belém, são apenas o princípio duma grande procissão que permeia a história.

Seguindo uma tradição iniciada pelo Beato Papa João Paulo II, celebramos a festa da Epifania também como dia da Ordenação episcopal de quatro sacerdotes que daqui em diante irão colaborar, em diferentes funções, com o Ministério do Papa em prol da unidade da única Igreja de Jesus Cristo na pluralidade das Igrejas particulares. A conexão entre esta Ordenação episcopal e o tema da peregrinação dos povos para Jesus Cristo é evidente. O Bispo tem a missão não apenas de se incorporar nesta peregrinação juntamente com os demais, mas de ir à frente e indicar a estrada.

Os homens que então partiram rumo ao desconhecido eram, em definitiva, pessoas de coração inquieto; homens inquietos movidos pela busca de Deus e da salvação do mundo; homens à espera, que não se contentavam com seus rendimentos assegurados e com uma posição social provavelmente considerável, mas andavam à procura da realidade maior. Talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também duma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana.

Um Bispo deve ser um homem que tem a peito os outros homens, que se deixa tocar pelas vicissitudes humanas. Deve ser um homem para os outros; mas só poderá sê-lo realmente, se for um homem conquistado por Deus: se, para ele, a inquietação por Deus se tornou uma inquietação pela sua criatura, o homem. Como os Magos do Oriente, também um Bispo não deve ser alguém que se limita a exercer o seu ofício, sem se importar com mais nada; mas deve deixar-se absorver pela inquietação de Deus com os homens. Deve, por assim dizer, pensar e sentir em sintonia com Deus.

A peregrinação interior da fé para Deus realiza-se sobretudo na oração. Santo Agostinho disse certa vez que a oração, em última análise, nada mais seria do que a atualização e a radicalização do nosso desejo de Deus.

O Bispo, como peregrino de Deus, deve ser sobretudo um homem que reza, deve viver em permanente contato interior com Deus; a sua alma deve estar aberta de par em par a Deus. As dificuldades suas e dos outros bem como as suas alegrias e as dos demais deve levá-las a Deus e assim, a seu modo, estabelecer o contato entre Deus e o mundo na comunhão com Cristo, para que a luz de Cristo brilhe no mundo.

Os Magos seguiram a estrela e assim chegaram a Jesus, à grande Luz que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Como peregrinos da fé, os Magos tornaram-se eles mesmos estrelas que brilham no céu da história e nos indicam a estrada. Os santos são as verdadeiras constelações de Deus, que iluminam as noites deste mundo e nos guiam. [...] Queridos amigos, isto diz respeito também a nós. Isto diz respeito sobretudo a vós que ides agora ser ordenados Bispos da Igreja de Jesus Cristo. Se viverdes com Cristo, ligados a Ele novamente no Sacramento, então também vós vos tornareis sábios; então tornar-vos-ei astros que vão à frente dos homens e indicam-lhes o caminho certo da vida.

Rezamos a Maria, que mostrou aos Magos o novo Rei do mundo, para que, como Mãe amorosa, mostre Jesus Cristo também a vós e vos ajude a serem indicadores da estrada que leva a Ele.

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