Realmente a
notícia da renúncia do Santo Padre Bento XVI nos pegou desprevenidos, de
surpresa!
Se havia
comentado algo em tempos passados, sobre uma possível renúncia do Papa em caso
de fragilidade física. No livro ‘Luz do mundo: o Papa, a Igreja e o Sinal dos
Tempos’, uma entrevista do papa ao jornalista católico alemão Peter Seewald, contém
muitas informações e reflexões sobre a vida pessoal e perspectivas de Bento XVI.
E o próprio Papa chega a comentar: “Sim, se um papa percebe claramente que não
tem mais condições físicas, psicológicas e espirituais de encarregar-se dos
deveres de seu cargo, ele tem o direito e, sob certas circunstâncias, a
obrigação de renunciar”.
Na verdade todo
esse assunto caiu no esquecimento, até que em 11 de fevereiro nos vemos
envoltos na orfandade paternal! Mas ainda assim creio que Bento XVI tomou essa
decisão depois de muita reflexão e oração e, partindo de tão grande
personalidade, foi acertada. Diante de tudo isso o admiramos mais ainda pela
sua coragem e, sobretudo, preocupação para com a Santa Igreja de Deus!
O Papa Bento
XVI anunciou sua renúncia após audiência com novos cardeais nesta segunda-feira,
dia 11 de fevereiro, memória de Nossa Senhora de Lourdes, no Vaticano, com o
seguinte comunicado (grifos nossos):
“Caros irmãos. Convoquei-os para este consistório,
não apenas para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma
decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus, eu tive
certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas
para o adequado exercício do ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua natureza
essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com palavras e fatos, mas
não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a
mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida
da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do
corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu
tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a
mim confiado. Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao
ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim pelos
cardeais em 19 de abril de 2005, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a
Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um conclave para eleger o novo
Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem competência para isso. Caros
irmãos. Agradeço sinceramente por todo o
amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço perdão por
todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos
cuidados de nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua
santa mãe Maria, para que ajude os cardeais com sua solicitude maternal, para
eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro,
através de uma vida dedicada à oração. Vaticano, 10 de fevereiro de 2013. Benedictus
Pp. XVI”
Bento XVI
deixará o pontificado em 28 de fevereiro às 20 horas de Roma, 17 horas de
Brasília.
MEDIDAS PRÓXIMAS A SEREM TOMADAS
Segundo o
porta-voz do Vaticano, a Santa Igreja deve ter um novo Papa até a festa da Páscoa,
no próximo dia 31 de março: “Temos de ter um novo Papa na Páscoa”, afirmou. O
conclave deve ser realizado de 15 a 20 dias após a renúncia.
No Código de
Direito Canônico, no artigo 332.2, se prevê a possibilidade de um papa renunciar,
mas precisa fazê-lo por sua livre vontade, e não é necessário que sua renúncia
seja aceita por ninguém. Segundo o código, uma vez tendo renunciado, o papa não
pode mais voltar atrás.
Após a renúncia
ou morte do papa, os assuntos da Santa Igreja ficam sob a responsabilidade do
Cardeal Camerlengo, no caso atual, Sua Eminência Reverendíssima Dom Tarcísio Cardeal Bertone.
Ele convocará o conclave, reunindo
todos os cardeais da Igreja Católica no Vaticano. Eles ficarão isolados em
celas particulares e se reunirão na Capela Sistina duas vezes por dia para
votar, durante o tempo que for necessário para a eleição do novo Pontífice. O
voto é secreto. A votação é feita em papel. Para que um papa seja eleito o
candidato deverá ter a maioria dos votos, ou seja, metade mais um. Depois de
cada sessão, os papéis da votação são queimados. Se não houver uma definição,
uma substância química é adicionada aos papéis para produzir uma fumaça escura,
que sai pela famosa chaminé que poderá ser avistada da Praça de São Pedro. Se
houver uma definição, a fumaça é branca. Assim sendo, reviveremos novamente a
emoção de ouvir na sacada principal da Basílica Vaticana: ‘Habemus Papam!’
CASOS DE RENÚNCIA DE PONTIFICADO
A
notícia-supresa da renúncia de Bento XVI nos fazem lembrar que não é a primeira
vez que isto acontece: em 235 Ponciano renunciou ao pontificado; Silvério em
537; João XVIII em 1009; Bento IX em 1045; em 13 de dezembro de 1294 Celestino
V; em 4 de junho de 1415 Gregório XII.
Papa
Celestino V
Depois da morte
de Nicolau IV, ao longo de mais de dois anos os cardeais não conseguiram chegar
a um acordo quanto à escolha de seu sucessor, por conta das divisões entre as
facções dos Collona, dos Orsini e dos Anjou. Roberto Monge, em seu ‘Dois Mil
anos de Papas’, afirma que em 1294 a escolha recaiu sobre o nome de Pietro
Del Morrone. O seu nome de batismo era
Pietro Angeleri. Nasceu no seio de uma família humilde de camponeses da região
dos Abruzos, e com 20 anos ingressou no mosteiro beneditino de Faifoli, perto de
Benevento.
Foi ordenado
sacerdote ainda jovem. Em 1245 tinha se retirado para a Maiella, onde deu
origem a uma ordem religiosa, a Ordem dos Celestinos, e que abraçava a regra de
São Bento, mas de um modo mais rígido e austero. Foi aí que uma delegação de
Cardeais veio ao seu encontro para lhe comunicar que fora eleito para o trono
pontifício. Depois de muito pensar, em obediência à vontade divina e talvez na
esperança de poder renovar a Igreja, Pietro Del Morrone aceitou a nomeação, e
sob o nome de Celestino V foi consagrado na Igreja de Santa Maria de
Collemaggio (em Áquila), a 29 de agosto de 1294. A fim de que não se repetisse
no futuro uma tão longa vacância da Santa Sé, o novo Papa restabeleceu as
disposições de Gregório X quanto ao conclave.
Em breve,
porém, esmagado pelo peso dos assuntos da Cúria, constatando que os seus
esforços de moralização continuavam sem produzir efeito, e amargurado com as
baixas intrigas que se praticavam na corte papal, renunciou aos seus projetos
de reformar a Igreja numa direção evangélica. A 13 de dezembro de 1294,
convocou um consistório em que anunciou a sua renúncia formal ao papado, dando
ao colégio dos Cardeais a plena faculdade de eleger um novo pastor para a
Igreja. Depois se despojou das insígnias pontifícias e voltou a vestir os
hábitos monásticos. O seu regresso à vida de eremita levantou um enorme
clamor. Celestino V voltou para o seu
deserto, na Maiella, para se dedicar à oração e à mortificação. Ele morreu no
dia 19 de maio de 1296, e foi sepultado na igreja de Santa Maria de Collemaggio,
em Áquila, onde tinha sido coroado papa. Em 1313 foi canonizado pelo Papa
Clemente V.
Visita de Bento XVI a Sulmona - Itália em 4 de julho de 2010, por conta do 8º centenário de nascimento de Celestino V. Na ocasião o Papa doou seu antigo pálio, depositando-o sob o caixão de vidro com as relíquias de Celestino.
Papa
Gregório XII
Ângelo Correr
nasceu em Veneza em 1325, numa nobre e antiga família. Foi Bispo de Veneza, delegado papal em
Nápoles e Cardeal presbítero de São Marcos.
Foi eleito Papa aos 80 anos de idade, a 30 de novembro de 1406, e a
consagração ocorreu a 19 de dezembro.
Ângelo tomou o nome de Gregório XII. Passados poucos dias divulgou a
intenção, já expressa no Sacro Colégio antes de sua eleição, de renunciar ao
trono papal para pôr fim ao Cisma do Ocidente, se ao mesmo tempo renunciasse
também o antipapa Bento XIII, que continuava a reinar em Avignon. Na prática,
nenhum dos dois abdicou.
Reunido em Pisa
em 1409, o Sacro Colégio decidiu então depor quer Bento XIII, quer Gregório
XII, e elegeu papa Alexandre V. Isto não só não resolveu o cisma como ainda o
agravou mais: agora havia não apenas dois, mas três Papas. Alexandre V, de seu
nome Pedro Filargo, nascera em Gândia, numa família muito pobre. Os
franciscanos acolheram-no e deram-lhe estudos. As suas qualidades intelectuais
levaram-no a frequentar as Universidades de Oxford e Paris. Galeazzo Visconti,
impressionado com a sua vasta erudição, convidou-o a ser professor e teólogo da
Corte. Foi mais tarde nomeado Cardeal Bispo de Milão por Inocêncio VII.
Ao morrer
Alexandre em 1410, sucedeu-lhe Baldassarre Cossa, com o nome de João XXIII.
Natural de Nápoles tinha sido Arcebispo de Bolonha e Bispo de Isquia antes de
Gregório XII o nomear Cardeal.
Para resolver a
questão das nomeações papais, pediu-se a intervenção do Rei da Alemanha.
Sigismundo convocou um Concílio em Constança, (1414-1418). Gregório XII fez
chegar a este Concílio, através de um delegado, a sua disponibilidade para
renunciar, condicionada apenas pela renúncia simultânea de Bento XIII e João
XXIII
Alguns
Cardeais, recorrendo à teoria da superioridade do Concílio sobre o Papa, e
levando em consideração a disponibilidade anunciada por Gregório XII, decidiram
exercer a sua autoridade para depor quer João XXIII, quer Bento XIII, que devem
ser assim considerados antipapas. Gregório XII apresentou a sua própria
demissão a 4 de julho de 1415, o que permitiu a eleição do Papa Martinho V, pondo
fim ao Cisma do Ocidente.
Gregório foi
recompensado com a nomeação para Bispo do Porto (Sicília) delegado perpétuo/
vitalício da Marca de Ancona e Decano do Sacro Colégio. Retirou-se para
Recanati, onde morreu a 18 de outubro de 1417, algumas semanas antes da eleição
do novo Papa Martinho V. Foi sepultado na catedral de Recanati.
Ué! eu pensei que o atual Cardeal Camerlengo era o Dom Tarcisio Bertone!!! e não o Sodano, como anunciado no artigo acima...
ResponderExcluirCaro Sr. Noronha!
ResponderExcluirAgradecemos a atenção ao nosso texto e a correção ao artigo.
Grato,
Seminarista Ânderson Barcelos
Administrador