No cinquentenário da realização do Concílio Vaticano II quis a Divina Providência conceder a sua Igreja um verdadeiro dom: a "hermenêutica da continuidade". O então Cardeal Ioseph Ratzinger escreve em sua obra "Introdução ao espírito da liturgia" sobre a necessidade de compreendermos o grande acontecimento da Igreja no século XX não como uma ruptura ou um cisma, mas, como um verdadeiro "aggiornamento", que de forma linear e contínua atualiza e revivifica o dom de Deus.
Durante seu profícuo pontificado o Papa Bento XVI não mediu esforços para trazer a tona e tornar clara a posição que já como cardeal defendia. Quer seja na liturgia ou no magistério vimos uma perfeita e equilibrada harmonia entre os costumes, as rubricas e a tradição da Igreja. Não poucas vezes foi taxado de conservador e retrógrado pela mídia e até mesmo nas esferas internas de sua grei. O papa foi um verdadeiro "mártir branco" da hermenêutica Concílio Vaticano II.
Com a eleição do Papa Francisco, no inicio de 2013, houve quem julgasse ter chegado ao fim a era da hermenêutica da continuidade, que se interromperia este tempo de equilíbrio e de luta pela correta aplicação das reformas do Vaticano II. O Papa Bergoglio é, não podemos negar, diferente do Papa Ratzinger. Todavia, a fé e o amor pela Igreja de Jesus Cristo não só os une, mas, os torna irmãos.
O Santo Padre tem se mostrado um homem de profunda veneração e respeito pela obra e pela pessoa de seu antecessor, o Papa Bento XVI. Em recente entrevista a uma rede de televisão alemã o Arcebispo Georg Gaswein, Prefeito da Casa Pontifícia e Secretário Particular de Ratzinger, disse que entre os dois papas há um verdadeiro respeito e carinho mútuo, e que Francisco sempre está interessado por Bento.
No que tange a vida pastoral a fé se mantém intacta. O Papa Francisco continua a pregar e a defender a mesma fé de Bento, de João Paulo, de Paulo e de João e assim por diante. Os anseios e os pedidos do Concílio Vaticano II continuam a ser aplicados, sobretudo, no que diz respeito a evangelização dos povos, do homem moderno.
Na liturgia houve um verdadeiro espanto quando da primeira missa pública do Papa recém eleito. Ao contrário de seu antecessor, Francisco não fez uso do altar fixo da Capela Sistina, que é "ad Orientem", mas pediu que na capela fosse colocado outro, "versus populum". Alguns interpretaram este gesto tão simples do Papa como uma negação da "reforma-reforma" ou então um sinal claro de que tudo que vinha sendo aplicado já estava fora de contexto e não serviria para seu Papado. Alguns fizeram festa, soltaram confetes, outros choraram amargamente.
Passados alguns meses, no último domingo - Festa do Batismo do Senhor - o Papa voltou a celebrar na mesma Capela Sistina, sob o olhar atento do Juízo Final de Michelângelo. Neste dia, 12 de janeiro, o Papa não solicitou que se colocasse outro altar na capela, outrossim, fez uso do altar fixo que lá está. Alguns comemoram com júbilo, outros julgaram que Francisco estava sob pressão da ala mais tradicionalista.
Creio que o Papa não esteja assim tão preocupado com a posição que o altar está, se "versus Deum" ou "versus populum", mas sim em aplicar e viver as normas litúrgicas. O Papa Francisco não é um demolidor, com alguns julgaram ser e tão pouco um reformista, como outros queriam. O Papa é alguém que está disposto a continuar investindo na hermenêutica da continuidade, fazendo ressoar na coração da Igreja frutos abundantes e fartos pela correta interpretação do Vaticano II.
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