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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Bento, homem da Humildade e da Renúncia

Quem conheceu Joseph Ratzinger diz que ele era um homem afável, simples e de gestos discretos. No final de cada manhã, mais precisamente às 13 horas e 30 minutos, o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé tomava sua boina preta e deixava o seu escritório. Cruzava os umbrais da Praça de São Pedro e se dirigia à casa no Borgio Pio, número 08, para o almoço. Este ritual se repetiu todos os dias, por quase 24 anos. Conta-se – tomando o exemplo da famosa metáfora inaugurada por seu conterrâneo, Immannuel Kant – que os romanos podiam acertar seus relógios ao ver o velho Cardeal passar.

Desde que deixou sua terra natal, a Alemanha, ele vivia na Cidade Eterna, onde dirigia com zelo a antiga congregação da fé. Apesar de ter ganho visibilidade como o grande “defensor da ortodoxia católica”, Ratzinger nunca fez o tipo popular e era avesso a grandes massas.




Quando do maior período de debilidade do Papa João Paulo II, Ratzinger já era Decano do Sacro Colégio de Cardeais e coube a ele presidir muitas celebrações em nome do Santo Padre, entre as quais a Via-Sacra no Coliseu, em 2005. O guardião da fé fulgurava como o braço direito do Pontífice, mesmo tendo pedido renúncia de seu cargo, por limite de idade. Sabe-se que ele aspirava a uma vida tranquila em sua casa na Alemanha.






Quando Joseph Ratzinger foi eleito o 264° sucessor de São Pedro, em 19 de abril de 2005, ele surgiu no balcão da Basílica e definiu-se como “simples e humilde trabalhador da Vinha do Senhor”. Tal declaração do novo papa fez com que seus críticos – que não eram poucos – afirmassem que ele estava sofrendo de uma “falsa humildade”.



Não percebiam os anos quase obscuros do novo Papa. Daquele que era o filho de um simples policial alemão, que se dedicou desde cedo aos estudos, que nunca foi pároco, apenas catedrático. Ratzinger, como já dissemos, é daquele tipo “rato de sacristia” e “rato de biblioteca”, que se satisfaz com uma liturgia bem celebrada e com uma aula bem dada.

Quando assumiu a Sé Petrina, ele retomou alguns costumes e vestes que estavam em desuso. Os múleos vermelhos - como o sangue dos mártires – foram calçados; a murça branca - no tempo pascal - endossada; o latim foi reforçado; o polifônico revigorado; os trompetes desenferrujados.  Mas não tardou para que se dissesse que o Papa era exagerado e que a definição de “simples e humilde” não passava de uma afirmação falaciosa.





Quase oito anos de Papado decorreram sem que muitos acreditassem que Bento XVI era verdadeiramente um homem simples, mas, que via na liturgia o verdadeiro e perfeito culto a Deus, a quem devemos a maior glória, e na doutrina, a esteira segura da salvação. 

Chamaram-lhe aristocrata, retrógrado e burguês. Mas, em fevereiro de 2013, todos tiveram que reconhecer em Bento um verdadeiro revolucionário.

Apesar de estar prescrito no Código de Direito Canônico, a renúncia de um Romano Pontífice não acontecia há séculos e a decisão de Ratzinger, fazendo-o por livre vontade, mudaria o curso da Igreja em tempos modernos. Foi necessária a presença de Deus e coragem, mas, também simplicidade e humildade, para dar fim a esta ideia.


Hoje, sabe-se que, quando Bento XVI anunciou sua decisão de deixar o timão da barca de Pedro, em 11 de fevereiro de 2013, a ideia já tinha sido amadurecida há muito tempo. O gesto do Papa, portanto, era a conclusão de uma série de reflexões e orações acerca de suas capacidades. Era o pastor da Igreja Universal que se reconhecia fraco e débil.



Quando, em 28 de fevereiro de 2013 – há um ano exato, ele deixou a Santa Sé para residir no Mosteiro Mater Ecclesia, o Papa Bento XVI dava o passo que concluía seu pontificado e dava prova de sua simplicidade e humildade.

Bento XVI iniciou seu papado se dizendo simples e humilde. Ao leva-lo a termo, se fez reconhecer honesto com o que dissera de si mesmo. Ali, definitivamente, se mostrou homem simples e humilde.

A renúncia de Ratzinger à Sé de Pedro fez dele um Papa revolucionário. Um homem com tamanho amor a Igreja de Cristo, que se fez disposto a tudo por esse amor. Agora, ele segue rezando por ela, por seu sucessor, por cada um de nós.




Nós, que vivemos o tempo de seu profícuo pontificado, 
só podemos dizer: 


Obrigado, Papa Bento XVI!


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