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sábado, 16 de fevereiro de 2013

I Domingo da Quaresma: tentação e redenção.


Neste I Domingo da Quaresma nós, católicos romanos, iniciamos nossa caminhada penitencial-quaresmal com a reflexão das tentações de Jesus no deserto (Lc 4,1-13). Mas o que foram essas tentações? O que elas significam para nós hoje? Como vencê-las e o que buscar verdadeiramente? Este artigo que escrevo, tirei das ideias bases do II capítulo do livro do Santo Padre Bento XVI Jesus de Nazaré. Junto com as ideias centrais do Papa (não por pretensão) apresento algumas conclusões minhas, feitas a partir da leitura atenta e minuciosa.
Jesus, no seu batismo, tem todo o mistério da sua vida revelado. Ao entrar na fila do batismo dos pecadores, se faz um de nós, não sendo pecador, mas tomando sobre si nossas misérias. Cumpriu tudo isto, mais tarde, plenamente na cruz. O Pai revela seu Filho amado, cumprindo a plenitude do amor na ressurreição, e o Espírito Santo (Lc 4,1a) desce em forma de pombo. Perceba, “como uma pomba”, ou seja, é semelhante, parecido com uma pomba, porque a figura do Espírito de Deus é misteriosa em sua essência; pelas coisas materiais pode se assemelhar, mas nunca ser de fato.


Mas o que está no centro aqui é outra coisa, não o batismo. Mas pelo seu batismo simbólico, o Espírito lhe da uma inspiração primeira; e qual é? Ir para o deserto para ser tentado (Lc 4,1b). Mas o Filho do homem, Salvador do gênero humano, ser tentado? Exatamente. Feito homem Ele quer sentir na sua carne o drama humano, as tentações dos homens e mulheres deste mundo. Quer ser tentado, encontrar-se com a ovelha desgarrada e ferida, para então tomá-la nos ombros e reconduzi-la para sua casa como Bom e Doce Pastor zeloso. Só sendo Deus para tamanha atitude!
Enfim, no deserto os demônios o tentam (Lc 4,2) e anjos o servem (Mt 4,11b). É a dialética humana! Nossa vida mortal e factível acontece nesse paradoxo: anjos e demônios! Anjos nos ajudam; demônios nos oferecem algo mais vislumbrante aos olhos. Anjos nos apresentam a vontade de Deus; demônios nos dão os prazeres do mundo. Anjos ajudam o Reino a acontecer em nós; demônios em legião o derrubam. A vida do homem na terra é assim; a vida espiritual do cristão é uma eterna luta, uma guerra, travada continuamente.
Jesus ficou 40 dias no deserto em jejum e profunda oração (Lc 4,2). Isso nos faz lembrar os 40 anos que o povo de Israel passou no deserto em busca da Terra Prometida, de onde brotariam leite e mel em abundância; dos 40 dias que Moisés se preparou para receber as tábuas dos mandamentos e ensinar, conduzir seu povo na justiça; dos 40 dias que Abraão preparou-se para o sacrifício derradeiro de seu filho. Parece-nos que Jesus em seus 40 dias percorre toda a história do povo eleito, da humanidade e também a toma sobre os ombros; suporta-a, assume-a, redime-a.


Passamos então às tentações. A primeira consiste em transformar as pedras em pães (Lc 4,3). Era uma dupla tentação. Primeiro porque Ele tinha fome (Lc 4,2b), e se tivesse pão ao seu alcance a saciaria; depois porque se as transformasse, subjugaria seu poder (que era sobrenatural) ao mal, ao demônio. Mas o intuito do Reino que Jesus traz não são os milagres. Jesus não veio ao mundo para realizar milagres, mas veio para encontrar pessoas, apresentá-las à proposta do Reino e revelar a face paternal de Deus. Jesus não se curva à tentação de satanás, e di-lo que o pão, o verdadeiro pão interessa aos retos de intenção. Milagre por milagre não leva a nada. Mas depois Ele mesmo se faria pão para nós, se multiplicaria em todos os altares do mundo. E este milagre até hoje acontece, e acontecerá até o fim dos tempos. Jesus não quer pessoas atrás dos seus milagres, mas sim atrás do seu verdadeiro alimento: “Fazer a vontade do Pai” (Lc 22,42).


Na segunda tentação o demônio promete ao Senhor em retiro o domínio sobre toda a terra, sob uma imposição: ajoelhar-se aos seus pés e o adorá-lo (Lc 4,6-7). Para que Cristo cederia a tal tentação se conhecia a vontade de seu Abbá? Ele sabia que depois de ressuscitado haveria de ter todo domínio, mas não apenas sobre a terra, e sim sobre o céu e a terra. Era um domínio de poder sobrenatural; e perante Seu nome teria dobrado todo joelho, na terra, no céu e no inferno.
Jesus é forte, espiritualmente (porque era o próprio Deus) e fisicamente; isto pelo jejum e oração, armas fortes contra a tentação, e expulsa o demônio da sua companhia! Porém esta tentação retorna aos tempos atuais. O demônio pede não a adoração a si diretamente, mas através da proposta pela escolha do que é mais racional para os homens, mais organizado, planificado. É o relativismo moderno. Propõe o mais “justo, igual” para todos, onde reine o bem-estar presente das pessoas e a desvalorização com a real essência do homem. Assim, nós decidimos o que deve fazer um “redentor”. É realmente triste constatarmos o crescimento disto hoje!


Na ultima tentação satanás, de modo engenhoso, toma um versículo da Escritura e o distorce bruscamente. Tira o sentido original, inspirado por Deus, e a interpreta do seu jeito. Esta é uma tentação mais que atual: como é cômodo e fácil interpretarmos a Bíblia do nosso jeito, para satisfazer nossos desejos e vontades. Ainda mais. Como é mais satisfatório tirarmos Deus do seu lugar de excelência em nossa vida e o adaptarmos de acordo com as próprias necessidades, subjugando-O à nossa vontade. Em certo ponto Feuerbach tinha razão, quando dizia ser Deus a projeção do próprio homem. Mas razão o tem em relação à situação atual dos ateus que nem razões sabem e têm para os serem. Mas para quem realmente crê a situação é outra. E Feuerbach passa longe de deter a verdade que realmente é verdade!
Enfim, Jesus não se jogou do pináculo do templo (Lc 4,9), pois este era um pedido com segundas intenções do demônio. Mas na cruz não. No madeiro santo Ele abraçou livremente a vontade do Pai e se jogou no maior pináculo da existência, a morte. E o Pai, como profetizara confusamente o demônio na tentação do deserto, O tomou pelas mãos e o ressuscitou, encheu sua humanidade do Espírito Santo e, até hoje, o faz reinar vivo, glorioso no céu à sua destra.


Vencendo as tentações no deserto, Cristo nos apresenta o verdadeiro bem do homem: o rosto misericordioso de Deus. Que nesta Quaresma que iniciamos possamos seguir os passos de Cristo, vencer o mal atual e presente, para esperançosos reinar com Ele no último dia.
16 de fevereiro de 2013.
Vésperas do I Domingo da Quaresma.

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