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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Primeiras impressões de um católico conservador

               


Antes de tudo, apenas esclareço que não sou filósofo, em sentido estrito. Ou seja, não tenho grande dedicação à pesquisa e nem profunda reflexão neste campo, ao ponto de ser chamado de filósofo. Tenho apenas algumas pinceladas necessárias de uma graduação recém-terminada. Em segunda estância, escrevo aqui como um católico! Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam! E antes da crítica reacionária, aceito plenamente o Vaticano II! Porque esta afirmação? Apenas a título de esclarecimento a algum desavisado de plantão que possa ler o título com más intenções. O que aqui descrevo e transmito não é dogma, é doxa.
Porque do conceito ‘conservador’ no título referido? Em primeiro porque assim me considero! Aceitando plenamente o Vaticano II, também aceito a Tradição da Igreja como depósito da fé da mesma de dois mil anos. Dois mil anos! É muita história e riqueza espiritual! Assim, (agora no âmbito estritamente litúrgico, pois é a Santa Missa o cerne deste artigo) creio que muitos gestos, ritos, palavras, ações contidas no Rito litúrgico Ordinário da Santa Missa antes do Vaticano II têm sua importância de complemento e aprofundamento do mistério eucarístico (ou vice-versa, pra quem entender o que quis dizer). Assim gosto de me inserir nesta palavra: conservador. Conservando o que é importante, não anularemos o atual, mas o complementaremos (segundo o correto entendimento. Correto!). Percebo que hoje, os católicos que “liturgicamente” não são conservadores, são em geral aqueles que desprezam o rito antigo, acham que o novo é atualização (prestes a cair numa profunda ruptura) ou mesmo nem conhecem aquilo que acontecia antes do Concílio (digo por experiência do que já vi – na China, não no Brasil!).


Com isso, não pretendo também dizer que, na questão litúrgica, temos partidos subdivididos em visões ou interesses. Não! A essência é a mesma; o mistério é o mesmo: Cristo se oferece continuamente na Eucaristia pela humanidade! Não somos e nem poderíamos ser uma Igreja subdividida em partidos, já que a libertação já ocorreu totalmente no calvário de Nosso Senhor. Corremos atrás da unidade pedida por Cristo; e antes de pensar em ecumenismo, pensemos na unidade dentro da própria Igreja em torno do báculo de Pedro! Mas mesmo assim, gosto de considerar assim: conservador.
Agora vamos ao ponto filosófico: conservador ou tradicional? Prefiro conservador, para dar destaque a este sentido de conservar aquilo tudo que pode ajudar e que hoje é, de certo modo, deixado de lado. Lembro-me das ditosas aulas de filosofia da cultura quando se falava das correntes do século XIX e XX. Quando se dividiu a apresentação de seminários, vi o tema ‘tradicionalismo’. Fiquei eufórico, imaginava já o esplendor da Igreja, da Liturgia intacta, da pomposidade, das grandes catedrais, altares... Mas na apresentação saiu tudo diferente! Que graça!


O tradicionalismo foi um movimento filosófico-teológico que pregava o conhecimento humano (razão) impossibilitado de conhecer verdadeiramente (!) as realidades espirituais. Ele visava à oposição ao fideísmo, que pregava o contrário (a fé exacerbada sem a razão). Os expoentes do tradicionalismo são Bautain e Bonnetty (tradicionalismo moderado). Enfim, tanto tradicionalismo quanto fideísmo foram condenados pelo Vaticano I (I, não II). Atualmente alguns usam ‘tradicionalismo’ para falar dos grupos doutrinário-litúrgicos que defendem a interpretação justa do Vaticano II segundo o sonho de João XXIII e não dos cardeais reacionários-políticos; ou mesmo para falar de Lefebvre e Mayer ou os não separados (?) Fedeli, Plínio e Clá, e suas devidas companhias. Enfim, parece “politicagem” demais. Para evitar isso e a confusão com aquela heresia discorrida rapidamente antes, prefiro evitar. Gosto de ‘conservador’.
Tudo isso só pra contextualizar. Gosto de contextualizações, história, essas coisas. Creio que seria um bom professor! Ou escritor? Mas isso não vem ao caso. Não agora.
Caros leitores que leram essa pataquada toda acima. Tudo isso para explicar o motivo integral do título e dizer-lhes minha alegria, que já dura uma semana e promete perdurar: pela primeira vez, assisti uma Santa Missa celebrada no Rito Tridentino! (e para os que ainda não entenderam ou não retornaram ao título, por isso “primeiras impressões...”). Isso aconteceu venturosamente num local não menos digno de tanta graça: na Basílica do Mosteiro de São Bento, no centro antigo de São Paulo. Mas alguns se perguntam: mas só agora assististe à Missa Tridentina? Sim. Saí do exílio barriga-verde no começo deste ano e vim parar em terras de garoa a pouco!


Antes que acabe por falar asneiras, vamos ao que me propus escrever: as primeiras impressões que tive. Na verdade não vi surpresas externas. Nada é tão diferente do que já tinha visto em vídeos, imagens e afins. O rito era aquele que trazem aqueles antigos ‘missais cotidianos’ que tinha contato. Mas algo foi inédito: a emoção de, sentado distraído no coro do mosteiro, ouvir aquele suntuoso órgão e, ao mesmo tempo, ver entrando em procissão um distinto sacerdote de barrete e pianetta roxa. Nunca mais esquecerei esta cena. Foi magnífico! Confesso que neste mesmo momento verteu-me uma lágrima sincera. Quando eu olhava para o lado direito, via piedosas mulheres de véu (e, inacreditavelmente ou não, jovens, compreenderam?, jovens mulheres com seus maridos e filhinhos pequenos); erguendo os olhos contemplava aquelas enormes imagens dos apóstolos, parecendo veras colunas da Fé indefectível da Igreja (sim, pois a Igreja é santa, e não santa e pecadora – assunto para o próximo artigo) que assistiam fixos tal mistério (a imagem de São Paulo me encabulava: ele olhava para fora como que indicando: “depois não se esqueça da missão!” e ainda me pergunto: “qual será esta missão?”. Creio que a estou realizando agora).


O momento foi inesquecível. Não vou transcrevê-lo, porque logo preciso terminar esse artigo. Não fui sozinho. Na saída do mosteiro e na volta para casa algumas questões apareceram da boca de alguns (e do pensamento engenhoso também): “não entendi nada!”, “achei muito morto, só o padre falava!”, “o que o padre falava mesmo?”, “as pessoas que estavam lá nem entenderam nada!”, e ainda na hora da Santa Missa, no instante da Epístola um cristão pergunta: “já começou a Missa?”. Inocências a parte, digo, pois, senhores e senhoras:
Para mim foi um momento único! Quem não gostou, não é obrigado a assistir novamente (e digo a todos que pensam ou que já pensaram o descrito no parágrafo anterior). Creio que as pessoas que lá estavam (que não era um grupo muito grande, mas ‘raleavam’, com diz o sulista, os bancos da Basílica), estavam convictas do que queriam, atentas ao que acontecia e sabendo muito bem o que se passava! Não entendeu o que o padre disse? Só procurar estudar um pouco mais da língua oficial da sua Igreja e logo mais saberá! Mas quero terminar para não exceder demais!


Saio realizado. Minha primeira impressão do Rito Tridentino foi muito positiva. Bem celebrado, com piedade e devoção, atentamente, com toda dignidade e sobriedade possível. Nas Missas que participo do Rito Ordinário, por incrível que pareça, participo muito melhor! Enxergando visivelmente a extrema adoração e respeito pela Sagrada Eucaristia do Rito Extraordinário, faço de minha participação no Rito Ordinário digna da mesma e extrema adoração e respeito. Afinal é o mesmo Cristo, ontem, hoje e sempre! No Rito Extraordinário, Ordinário e no novo Movimento Litúrgico!
Quiçá pudera eu participar novamente, inúmeras vezes. E assim o quero fazer. Percebi nitidamente como os dois Ritos se complementam.
Perdão pelas intervenções dos parênteses pelo corpo do texto; creio que herdei o jeito de escrever de Escrivá, de tanto lê-lo. Teria eu muitíssimo mais coisas a discorrer, mas não quero cansá-los, diletos, com meus sonhos visionários por vir. Ao escrever isto tudo, olhei para o gramado à minha frente e, pensei (algo suscetível para as críticas): “Quem dera, se o mundo fosse conservador como eu!”.


Agora sim, termino reafirmando: são realmente muito otimistas as primeiras impressões de um católico conservador!

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