Páginas

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Boi Mudo eloquente!

Em 1248 no Studium dominicano de Colônia, havia um jovem frade italiano, com cerca de 24 anos, que chamava a atenção para si: ele era alto, gordo - muito gordo - e de rosto plácido. Seu nome? 

Tomás de Aquino! 

Tomás nasceu na Itália em Roccassecca, atual região do Lazio, em 1224. Filho de uma das mais nobres e ricas famílias italianas. Foi educado, desde os seis anos, pelos beneditinos na Abadia de Monte Cassino, fundada pelo próprio São Bento de Núrsia. 

Aos quinze anos de idade, contrariando a família, deixou a abadia e desejou seguir a Ordem dos Pregadores, os Dominicanos, fundados como mendicantes pelo espanhol São Domingos de Gusmão. O pai, Conde Landulf de Aquino, lhe ofereceu dinheiro suficiente para conquistar o Arcebispado de Napóles e a própria abadia de Monte Cassino, mas o filho rejeitou. Diante da negação a família aprisionou o jovem em uma das torres do castelo, levando até ele uma prostituta a qual Tomás expulsou aos berros, dizendo: "Quero ser dominicano". 

Vendo que seria impossível dissuadir o filho da vocação à vida eclesiástica e medicante, Tomás é liberto, mesmo sendo causa de vergonha para os Aquino, que eram da mesma família que o Imperador Barba-Roxa, Frederico II.


Tendo iniciado os estudos da Teologia, ele os cursa por seis anos em Paris e por dois em Colônia; lá tem como mestre o próprio Santo Alberto, Magno. No Studium dominicano, era comum encontrar Tomás murmurando pelos cantos da clausura. Alberto via nele um profundo potencial intelectual, já seus colegas - mesmo reconhecendo suas capacidades - acreditavam que ele não passava de um frade com hábitos incomuns. 

Por ficar passar muito tempo resmungando e ruminando certas palavras recebeu o apelido de Tomás, o Boi Mudo! 

Conta-se que Tomás era brando demais para se importar com a jocosa "alcunha" que recebera. Porém, Santo Alberto Magno teria se incomodado com o apelido e certa vez disse: "Sim, é um boi mudo, mas, eu vos garanto que há de mugir tanto que abalará o Universo".


Em 1251 já estava formado em Teologia. Apenas cinco anos depois o Papa Alexandre IV manda que Tomás de Aquino seja catedrático na universidade de Paris, ao mesmo tempo que convoca São Boaventura. Sua carreira acadêmica ganha largueza e ele se torna, muito rapidamente, um expoente da Teologia e da Filosofia. O Papa Alexandre IV o fez seu conselheiro e os seus sucessores Urbano e Clemente IV fizeram o mesmo, dando a ele uma espécie de  função que equivaleria à de "Teólogo da Cúria Romana".

Durante sua vida, inúmeras são as obras e as contribuições, quer filosóficas, teológicas e mesmo poéticas de Tomás. Obras como: Dois preceitos da caridade, Saudação angélica, Suma contra os gentios, Comentários sobre as obras de Aristóteles, Lauda Sion e a Summa Teológica fulguram entre as jóias raras que sua inteligência incomum nos legou.

Reduzir a obra e o pesamento de Santo Tomás de Aquino à Summa Teológica, mesmo que esta seja sua obra prima, é coloca-lo sob um rótulo e uma limitação que não condiz com suas capacidades. Em Tomás vemos o apogeu da Escolástica e as contribuições que são basilares para a fé e para razão.


Na sua luta por aprofundar-se nos pensamentos de Aristóteles e de Estagirista, com a ajuda do tradutor Frei Guilherme de Morbeke, vemos o ardente desejo de que o homem possa servir-se da razão. No aristotelismo não o objetivo de se chegar às coisas sobrenaturais, divinas e transcendentes pela razão, mas, proceder a um trabalho de abstração, de purificação e refinamento dos resultados adquiridos pelos sentidos, que nos levem a uma fé consciente e embasada; portanto, fé e razão se entreajudam e se complementam.

Tomás de Aquino, o nobre que se fez mendigo, o gordo boi mudo que foi homem de virtudes e de capacidades, também foi grande na fé. Aos olharmos hinos como "Pangue língua" temos certeza de que o Santo de Aquino era uma alma profundamente com os pés no chão, mas, totalmente voltado para Deus. Não podemos encará-lo apenas como teólogo e filósofo e, por isso, nos esqueçamos do frei, do santo.


Quando estava no leito de morte, Tomás pediu que recitassem ao pé do seu ouvido não fórmulas doutrinárias ou sentenças lógicas, mas sim, o cântico dos cânticos. Tomás de Aquino morreu em 1274, aos 49 anos de idade, ao som dos cânticos que falavam dos pássaros, da beleza e da liberdade.


50 anos após sua morte, em 1323, era inscrito no roll dos santos e em 1567 foi declarado Doutor da Igreja. Assim ganhamos no céu um verdadeiro intercessor, um homem humilde e simples, que negou as riquezas deste mundo, até mesmo rejeitando a púrpura cardinalícia que o Papa lhe quis entregar para em tudo servir a Deus, Nosso Senhor.

Ó Doutor dos Anjos! Ó Doutor comum, nosso santo intercessor!

Nenhum comentário: