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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Bento, homem da Arte e da Cultura

Por Henrique Zimmer* 
Seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre-RS 




Nascido entre aquele povo de onde saíram alguns dos mais célebres e aclamados compositores clássicos, como Bach, Mozart e Beethoven, o jovem Joseph Ratzinger logo cedo tomou gosto pela arte, e pela música de câmara – a música clássica, em especial. Crescendo em um lar muito cristão, onde a religiosidade era, obviamente, aliada a um grande apreço pela cultura, Joseph teve amplo espaço para desenvolver as suas habilidades artísticas. Além de tocar piano, interessou-se também, desde muito jovem, pela literatura e pelas línguas - Bento XVI domina uma dúzia de idiomas, entre os quais o grego antigo e o hebraico.

Sabe-se que dentre as coisas para as quais o nosso amado Papa Emérito tem procurado dar mais atenção desde sua renúncia, em 28 de fevereiro de 2013, está o antigo hábito de tocar suas peças prediletas ao piano. Temos acesso às declarações oficiais do Vaticano, ou de seu próprio secretário particular, Dom Georg Gaenswein, e a algumas imagens muito belas, que incluem o encontro com seu irmão, Monsenhor Georg Ratzinger, o antigo regente do coro da Catedral de Ratisbona, quando este celebrava seus 90 anos de vida ao lado de Bento XVI.



Tudo isso nos atesta o bem que essa nova rotina, baseada em música, leitura, estudo e oração, tem feito a Bento XVI. E ele compreende os benefícios e valores da cultura e da arte, não só para sua própria saúde física e espiritual, ou a de terceiros, mas procurou, também, promover a arte enquanto algo maior, que é para Deus. 

Bento XVI soube, como poucos, dar o devido valor ao belo. E aqui falamos não só em beleza estética, mas também no que toca aos valores históricos do que constitui a cultura da sociedade cristã, em especial no ocidente. Exemplo disso foi a criação da Pontifícia Academia Latinista, a fim de buscar uma verdadeira compreensão da importância da língua latina, seja quanto ao seu uso litúrgico, ou mesmo ao recordar-nos que é este o idioma que deu origem a tantos outros e que, em si, carrega a fonte de inúmeras obras literárias do mundo latino.


Há quem diga que todo esse apreço de Bento XVI pela beleza, em especial na liturgia, ao retomar alguns paramentos e dar destaque ao latim, ao Canto Gregoriano e à Polifonia Sacra, seria como que uma ruptura com aquilo que nos é ensinado pelo Concílio Vaticano II. Mas a verdade é que nenhuma postura poderia ser mais centrada na fidelidade ao Concílio, do que a postura tomada por Joseph Ratzinger ao assumir a Cátedra de São Pedro. 

  

Já nos dizia o Papa Paulo VI em sua mensagem aos artistas, quando da conclusão do Concílio: “O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração”.

Falando a artistas, com os quais se reuniu em 2009 – 10 anos depois da carta que o Papa João Paulo II lhes havia dirigido, Bento XVI chamava-os a atentar justamente para essa percepção do belo à luz da fé, que fora defendida na visão conciliar. Dizia ele: “Não tenhais medo de relacionar-vos com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história, rumo à Beleza infinita!”




Enquanto homens e mulheres de nosso tempo, temos visões sobre o belo que podem variar. Aquilo que para um é a obra mais perfeita e digna, para outro pode não apresentar valor algum. Mas devemos nos valer, também, dessa herança que o Papa Emérito nos deixou. Como ele sabiamente nos ressaltou, devemos rumar à Suprema Beleza, à Beleza infinita, que é o nosso Deus!

  
Que saibamos, como Bento XVI, dar o devido valor e dedicar tudo aquilo de belo, em nós, na Igreja e no mundo, Àquele que tudo merece.


                                                    
Henrique Zimmer é seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre, Músico e Compositor graduado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

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