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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Mestre dos Cerimoniários Pontifícios, Monsenhor Enrico Dante



Todos os admiradores da liturgia papal anterior ao Vaticano II podem perceber o onipresente Monsenhor Enrico Dante ao lados dos Sumos Pontífices, de Bento XV a Paulo VI.

De porte hierático, muito alto e magro, o Cerimoniário destacava-se, até mesmo ao lado do grande Papa Pio XII, último dos Príncipes de Deus. Numa época em que o Santo Padre celebrava poucas vezes a complexa Missa Papal, o Monsenhor Dante sabia coordenar impecavelmente o longuíssimo e elaborado ritual, no qual todos os integrantes da Corte Pontíficia tinham o seu exato papel: Cardeais Diáconos assistentes ao Trono (em dalmática e mitra ou de capa magna com a cauda dobrada ao braço, por estarem servindo em presença do Sumo Pontífice, camareiros eclesiásticos em hábito paonazzo ministrantes da Tiara, da Mitra e da falda, diáconos e subdiáconos dos ritos latino e grego, príncipes assistentes ao sólio pontifício, guarda nobre e camareiros de capa e espada.

Enrico Dante nasceu na cidade de Roma, a 5 de julho de 1884, onde veio a falecer, no dia 24 de abril de 1967. Era filho de Achille Dante e de Zenaide Ingegni. Tinha apenas 8 anos quando ficou órfão de mãe, juntamente com mais duas irmãs e um irmão, que mais tarde veio como missionário para o Brasil.

Após fazer os estudos secundários com os Padres de Sion, em Paris, ingressou no Colégio Capranica, na cidade de Roma, em 1901. Doutorou-se em Filosofia, Teologia, Cânones e Direito Civil, na Pontifícia Universidade Gregoriana, passando a advogar na Sacra Rota Romana.
Foi ordenado sacerdote a 3 de julho de 1910, na Igreja de Santo Apolinário, em Roma, por Dom Giuseppe Ceppetelli, Patriarca Latino de Constantinopla. De 1911 a 1928, Enrico Dante lecionou Filosofia no Pontifício Ateneu Urbaniano “De Propaganda Fide”; de 1928 a 1947, passou a reger, também, a cadeira de Teologia. Em 1913, ingressou como oficial da Sagrada Penitenciária Apostólica.

No dia 25 de março de 1914, foi admitido como membro da Pontifícia Academia de Cerimônias. O Santo Padre Pio XI confiou-lhe a reabertura da Nunciatura Apostólica de Paris, em 1923, ao que ele declinou, por ter duas irmãs em Roma que necessitavam dele, por serem órfãs. Continuou suas atividades na Cidade Eterna, sendo nomeado pelo Pai da Cristandade como suplente na Sagrada Congregação para os Ritos, a 26 de outubro daquele ano, passando a substituto a 28 de setembro de 1930.

Elevado à dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade, a 15 de maio de 1943, e, a 27 seguinte, feito sub-secretário da S. C. Cerimonial. A 13 de junho de 1947, foi elevado a Prefeito das Cerimônias Pontifícias. O ponto alto de sua atuação foi no Ano Santo de 1950, estando sempre ao lado do Papa Pacelli. Em reconhecimento à sua atuação e dedicação à Casa Pontifícia, João XXIII o fez pró-secretário da Sagrada Congregação dos Ritos, a 24 de janeiro de 1959, passando a secretário a 5 de janeiro de 1960.

Exerceu o ministério pastoral, na Diocese de Roma, em Torre Nova e na Basílica Patriarcal de Latrão. Em Santa Maria em Monte, na Piazza del Popolo, foi decano do Cabido. Por mais de 40 anos, ouviu confissões na Igreja do Sacro Cuore al Suffragio, em Roma. Ao mesmo tempo, encontrava oportunidade para práticas esportivas, sendo um atleta entusiasta, que ajudou a fundar o Roma, time de futebol, além de praticar alpinismo.

Como cerimoniário da Casa Pontifícia, participou dos Conclaves de 1914, 1922, 1939, 1958 e 1963, atuando nas cerimônias de coroação dos papas Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Enrico Dante foi o primeiro mestre de cerimônias papal a ajudar o Sumo Pontífice numa sagração de um bispo no Rito Bizantino, a do futuro cardeal Gabriel Acacius Coussa, OSBA.
Em 28 de agosto de 1962, foi eleito arcebispo titular de Carpasia, sendo sagrado a 21 de setembro seguinte, pelo Beato João XXIII, na Basílica Lateranense, sendo co-sagrantes o Arcebispo Titular de Sardica, assessor da Sagrada Congregação Consistorial, Dom Francesco Carpino, e o Arcebispo Titular de Teolemaide di Tebaide, assessor do Supremo Santo Ofício, Dom Pietro Parente. Na mesma cerimônia, foram sagrados, também, os futuros cardeais Cesare Zerba, Pietro Palazzini, e Paul-Pierre Philippe – OP.

Participou de todas a ssessões do Concílio Vaticano II (1962-1965), inclusive fazendo parte de comissões. Entretanto, a partir da segunda sessão, tendo em vista a destruidora tempestade que se anunciava, tornou-se um determinado opositor daqueles que queriam simplesmente arrasar com toda a bimilenária história de fé da Igreja Católica, para construir algo novo sobre os escombros da antiga.

O Papa Paulo VI elevou-o a Cardeal Presbítero da Santa Igreja, no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, com o título de Santa Ágata dos Godos, em Roma. A tristeza, porém, já era percebida no seu semblante, pois tudo o que amara ardorosamente por toda a sua vida estava prestes a ruir. O seu consistório foi, aliás, o último no qual o galero cardinalício foi entregue aos novos purpurados.

Com idade avançada, adoeceu gravemente, sendo internado no Policlínico Gemelli, onde recebeu a visita do Papa Paulo VI, no dia 6 de abril de 1967.

Faleceu confortado pelos Sacramentos daquela a quem dedicou toda a sua vida, no dia 24 de abril de 1967. Após solenes exéquias, seu corpo foi enterrado na Igreja de Santa Ágata dos Godos, em uma simples gaveta mortuária, na Cripta. Em sua memória, A. Fanttinnanzi ergueu-lhe um monumento no mesmo templo.

Fala-se nos dias atuais, sobre a possibilidade do Sumo Pontífice celebrar uma Missa Papal utilizando-se do antigo ritual. Algumas dificuldades de ordem prática surgem, principalmente em razão da extinção de muitos cargos da antiga Corte Papal. Mas, como o que parecia impossível tornou-se possível, através do Motu Proprio Sumorum Pontificum, e aos poucos a Santa Missa volta a ser celebrada no antigo rito de S.Pio V, principalmente em razão do interesse demonstrado por jovens sacerdotes e seminaristas, fascinados com a sacralidade e santidade do antigo rito, esperamos sim, com grande expectativa, pelo dia em que teremos a alegria de assistir ao inesquível ritual de uma Missa Papal tradicional e, com certeza, lá no Céu, o Monsenhor Enrico Dante estará vibrando e aplaudindo.

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