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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Um santo sem faixa, mas, com joelhos

Certa vez estava reunido o grande clero de Lyon, na França. Todos os padres apresentaram-se da melhor maneira possível: batina engomada, faixa bem alinhada e ferrailo limpo. Entre eles, porém, destacava-se um pela pobreza de suas vestes. 

Ao observá-lo um velho Cônego da Catedral disse:

“Veja aquele padre sem faixa. Que coisa feia.”

O Bispo ao ouvir a exclamação retrucou, dizendo:

 “O Cura D’Ars sem faixa vale muito mais do que vocês com.”

 Assim era o pobre Padre João Maria Battista Vianney, o Cura D’Ars. 


 
Deus foi exilado da França.

Na pequena cidade de Dardilly, ao norte de Lyon, em 08 de maio de 1786 nasceu João Maria, quarto dos seis filhos de Mateus e Maria Vianney, uma família pobre de bens materiais, mas, rica em virtudes cristãs. 

A igreja paroquial de Dardilly havia sido fechada há algum tempo, por ordem do governo francês. O clero naquele país estava dividido entre “padres juramentados” e “não-juramentados”, ou seja, os de acordo ou não com a “Constituição Civil do Clero”, votada pela Assembleia dos Estados Gerais em julho de 1790, que subordinava totalmente a Igreja na França ao Estado e abolia as instituições de ensino e assistência social mantida por religiosos. Havia nesse período uma incitação à separação da Igreja Universal.

Sabe-se que mais da metade do clero francês foi contra a Constituição e que apenas oito Bispos prestaram o tal juramento. Os não juramentados foram perseguidos e, a partir de setembro de 1792, guilhotinados.

É neste contexto anti-clericalista que nasce o pequeno João Maria. Ele mesmo fez sua primeira comunhão numa casa de campo, em uma missa clandestina, quando já passava dos 13 anos de idade. 

Em 1789 a Revolução Francesa toma seu estopim. Deus estava exilado da França. 

Somente em 1800 as igrejas foram reabertas. Deus voltara, mas, muitos o tinham esquecido. Vianney promete a si próprio que o faria voltar aos corações da França neo-pagã.

Formação sacerdotal.

Em 1806, não distante de Dardilly, o padre Charles de Balley acolhia jovens que se apresentavam para a formação sacerdotal, antes de enviá-los para o seminário. João Maria se inscreveu para a “escola paroquial”, porém, ali havia um caso desesperador: ele já contava mais de vinte anos e mal e mal conhecia os primeiros rudimentos da leitura e escrita.

Desde os primeiros momentos entre o Padre Balley e seu jovem pupilo houve um relação profunda e uma amizade sincera.

Balley tentou ensinar latim ao jovem Vianney, mas ele não atingia os objetivos, em contrapartida era brilhante nos estudos da fé e da moral. Muitas foram as tentativas para que ele fosse admitido a algum seminário, porém, todas foram frustradas uma vez que ele não dominava a língua eclesiástica. 

Somente no início de 1815 foi que o padre Balley conseguiu que Vianney fosse entrevistado na sua presença, por um padre nomeado pelo Bispo. Na ocasião ele obteve êxito e sua ordenação sacerdotal foi marcada para 13 de agosto daquele mesmo ano.


O caminho do céu.

Após a Ordenação o Bispo de Lyon decidiu que ele ficaria na paróquia, junto do Padre Balley, e que não poderia administrar o sacramento da confissão. Em 16 de dezembro de 1817 morreu o velho pároco e João Maria foi transferido para Ars-em-Dombes.

Ars era uma pequena aldeia, com 40 casas e 270 habitantes. Como todos os pequenos aglomerados de camponeses da região não brilhava pela santidade. Ainda havia fé em Deus, mas escondida sob a cinza da ignorância religiosa e de uma prática moral que deixava muito a desejar.
João Maria chegou aquela localidade em 11 de fevereiro de 1818. Conta-se que ao se dirigir para lá encontrou um menino muito pobre, a quem disse: 

“Mostra-me o caminho de Ars e te mostrarei o caminho do céu.”

Ao chegar na pequena aldeia ele encontrou a capela abandona, sendo utilizada como estábulo para os animais. Sua primeira ação foi pôr “ordem na casa” e visitar todos os paroquianos, para que conhecessem o novo Cura de Almas. 
 
Merece especial destaque o zelo litúrgico de Vianney. Sabe-se que vivia como pobre, mas, que para o culto era esmerado nas melhoras alfais e nos melhores vasos. Dignos para o Senhor. Além do que seus sermões eram sempre preparados com esmero. Costuma-se dizer que quando terminava a predica dominical, já se punha a preparar a do próximo domingo.

Ars não era paróquia e só foi elevada a essa condição três anos depois da chegada de Vianney. Quando provou que aquela região era necessitada de Deus e que ele realmente possuía condições de guia-los para o céu.

Seu zelo pastoral revelou-se logo quando de sua chegada: visitou todos os paroquianos; criou uma escola para as crianças, ao qual chamou de “Providência”; Erigiu a Irmandade do Rosário para as mulheres e do Santíssimo Sacramento para os homens. Envolveu a todos em ações caritativas e de vivência religiosa.

Aos poucos Ars começou a mudar com a ação apostólica do novo Paróco. A tal ponto que em um dos seus sermões, Vianney exclamou: “Meus irmãos, Ars não é mais Ars!”.

 
O Apóstolo do joelho.

 A medida que seu trabalho ia expandindo-se a fama de santidade de Vianney ia crescendo. Muitos recorriam a ele no confessionário, o que fez com o que Bispo tivesse que nomear um Coadjutor e, mais tarde, um grupo de padres para auxiliar o pároco.

Vianney passava horas atendendo as dezenas, depois centenas e milhares de penitentes que ao seu confessionário recorriam. Só sai de lá para celebrar a Santa Missa e para adorar a Jesus no sacrário. 

A vitalidade de seu apostolado – sem qualquer sombra de dúvidas – tinha sua raiz nos joelhos do velho cura: Vianney passava cerca de quatro horas adorando a Jesus sacramentado.

O excessivo trabalho nunca fez do Cura de Ars um ativista pastoral. João Maria jamais deixou de rezar e rezar muito, além do que nunca se privou de severas mortificações e penitencias. Conta-se que durante longos anos alimentou-se apenas de batatas cozidas, com sal.

Em muitas ocasiões ele tentou deixar Ars e recolher-se para oração, em um mosteiro. Dizia sempre estar preocupado com a sua própria salvação. Todas as suas três suas tentativas foram frustradas. Numa das ocasiões de fuga ele foi reconduzido a força para a Paróquia, pelos próprios paroquianos.

Vianney aspirava a vida contemplativa, mas, era na ação pastoral que Deus o queria. Lá em Arsn-em-Dombes houve uma verdadeiro renovação eclesial: conversões, penitencias e muita oração trouxeram Deus novamente ao coração de toda a Aldeia e a França.

O exemplo deste santo sacerdote é, ainda hoje, o modelo da Igreja: o de um sacerdote dedicado ao povo de Deus, em nome de Cristo, na Igreja. Há quem considere o exemplo de Vianney um pouco ultrapassado ou impraticável nas grandes metrópoles pós-modernas, entretanto, Deus continua sendo exilado de nossa sociedade e o mundo aspira por sacerdotes santos, homens de oração, de piedade, de coração e alma verdadeiramente sacerdotal. 

Deus chamou Vianney para si, em 04 de agosto de 1859; sentiu-se mal quando ouvia a confissões. Relutou em deixar ou confessionário, mas, foi retirado de lá e colocado sobre a cama, onde morreu na paz do Senhor, reconfortado pelos últimos sacramentos e por uma multidão que rezava por ele na cidade.


São Pio X o beatificou em 1905, Pio XI o inscreveu no rol dos santos em 1925, ao mesmo tempo que o declaro patrono dos párocos e do clero diocesano. São João XXII, em 1959, por ocasião do centenário da morte de Vianney escreveu a encíclica Sacerdoti nostri primordia, sobre o sacerdote e Bento XVI, por ocasião do sesquicentenário da Morte do Cura D’Ars convocou um ano sacerdotal (2009-2010).

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