Antes de
tudo, apenas esclareço que não sou filósofo, em sentido estrito. Ou seja, não
tenho grande dedicação à pesquisa e nem profunda reflexão neste campo, ao ponto
de ser chamado de filósofo. Tenho apenas algumas pinceladas necessárias de uma
graduação recém-terminada. Em segunda estância, escrevo aqui como um católico! Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et
Apostolicam Ecclesiam! E antes da crítica reacionária, aceito plenamente o
Vaticano II! Porque esta afirmação? Apenas a título de esclarecimento a algum
desavisado de plantão que possa ler o título com más intenções. O que aqui
descrevo e transmito não é dogma, é doxa.
Porque do
conceito ‘conservador’ no título referido? Em primeiro porque assim me
considero! Aceitando plenamente o Vaticano II, também aceito a Tradição da
Igreja como depósito da fé da mesma de dois mil anos. Dois mil anos! É muita
história e riqueza espiritual! Assim, (agora no âmbito estritamente litúrgico,
pois é a Santa Missa o cerne deste artigo) creio que muitos gestos, ritos,
palavras, ações contidas no Rito litúrgico Ordinário da Santa Missa antes do Vaticano
II têm sua importância de complemento e aprofundamento do mistério eucarístico
(ou vice-versa, pra quem entender o que quis dizer). Assim gosto de me inserir
nesta palavra: conservador. Conservando o que é importante, não anularemos o
atual, mas o complementaremos (segundo o correto entendimento. Correto!).
Percebo que hoje, os católicos que “liturgicamente” não são conservadores, são em
geral aqueles que desprezam o rito antigo, acham que o novo é atualização
(prestes a cair numa profunda ruptura) ou mesmo nem conhecem aquilo que
acontecia antes do Concílio (digo por experiência do que já vi – na China, não
no Brasil!).
Com isso, não
pretendo também dizer que, na questão litúrgica, temos partidos subdivididos em
visões ou interesses. Não! A essência é a mesma; o mistério é o mesmo: Cristo
se oferece continuamente na Eucaristia pela humanidade! Não somos e nem poderíamos
ser uma Igreja subdividida em partidos, já que a libertação já ocorreu
totalmente no calvário de Nosso Senhor. Corremos atrás da unidade pedida por
Cristo; e antes de pensar em ecumenismo, pensemos na unidade dentro da própria
Igreja em torno do báculo de Pedro! Mas mesmo assim, gosto de considerar assim:
conservador.
Agora vamos
ao ponto filosófico: conservador ou tradicional? Prefiro conservador, para dar
destaque a este sentido de conservar aquilo tudo que pode ajudar e que hoje é,
de certo modo, deixado de lado. Lembro-me das ditosas aulas de filosofia da cultura
quando se falava das correntes do século XIX e XX. Quando se dividiu a
apresentação de seminários, vi o tema ‘tradicionalismo’. Fiquei eufórico,
imaginava já o esplendor da Igreja, da Liturgia intacta, da pomposidade, das
grandes catedrais, altares... Mas na apresentação saiu tudo diferente! Que
graça!
O
tradicionalismo foi um movimento filosófico-teológico que pregava o
conhecimento humano (razão) impossibilitado de conhecer verdadeiramente (!) as
realidades espirituais. Ele visava à oposição ao fideísmo, que pregava o contrário
(a fé exacerbada sem a razão). Os expoentes do tradicionalismo são Bautain e
Bonnetty (tradicionalismo moderado). Enfim, tanto tradicionalismo quanto fideísmo
foram condenados pelo Vaticano I (I, não II). Atualmente alguns usam
‘tradicionalismo’ para falar dos grupos doutrinário-litúrgicos que defendem a
interpretação justa do Vaticano II segundo o sonho de João XXIII e não dos
cardeais reacionários-políticos; ou mesmo para falar de Lefebvre e Mayer ou os
não separados (?) Fedeli, Plínio e Clá, e suas devidas companhias. Enfim,
parece “politicagem” demais. Para evitar isso e a confusão com aquela heresia
discorrida rapidamente antes, prefiro evitar. Gosto de ‘conservador’.
Tudo isso só
pra contextualizar. Gosto de contextualizações, história, essas coisas. Creio
que seria um bom professor! Ou escritor? Mas isso não vem ao caso. Não agora.
Caros
leitores que leram essa pataquada toda acima. Tudo isso para explicar o motivo
integral do título e dizer-lhes minha alegria, que já dura uma semana e promete
perdurar: pela primeira vez, assisti uma Santa Missa celebrada no Rito
Tridentino! (e para os que ainda não entenderam ou não retornaram ao título,
por isso “primeiras impressões...”). Isso aconteceu venturosamente num local
não menos digno de tanta graça: na Basílica do Mosteiro de São Bento, no centro antigo de
São Paulo. Mas alguns se perguntam: mas só agora assististe à Missa Tridentina?
Sim. Saí do exílio barriga-verde no começo deste ano e vim parar em terras de
garoa a pouco!
Antes que
acabe por falar asneiras, vamos ao que me propus escrever: as primeiras
impressões que tive. Na verdade não vi surpresas externas. Nada é tão diferente
do que já tinha visto em vídeos, imagens e afins. O rito era aquele que trazem
aqueles antigos ‘missais cotidianos’ que tinha contato. Mas algo foi inédito: a
emoção de, sentado distraído no coro do mosteiro, ouvir aquele suntuoso órgão e,
ao mesmo tempo, ver entrando em procissão um distinto sacerdote de barrete e pianetta roxa. Nunca mais esquecerei
esta cena. Foi magnífico! Confesso que neste mesmo momento verteu-me uma lágrima
sincera. Quando eu olhava para o lado direito, via piedosas mulheres de véu (e,
inacreditavelmente ou não, jovens, compreenderam?, jovens mulheres com seus
maridos e filhinhos pequenos); erguendo os olhos contemplava aquelas enormes
imagens dos apóstolos, parecendo veras colunas da Fé indefectível da Igreja (sim,
pois a Igreja é santa, e não santa e pecadora – assunto para o próximo artigo)
que assistiam fixos tal mistério (a imagem de São Paulo me encabulava: ele
olhava para fora como que indicando: “depois não se esqueça da missão!” e ainda
me pergunto: “qual será esta missão?”. Creio que a estou realizando agora).
O momento foi
inesquecível. Não vou transcrevê-lo, porque logo preciso terminar esse artigo.
Não fui sozinho. Na saída do mosteiro e na volta para casa algumas questões apareceram
da boca de alguns (e do pensamento engenhoso também): “não entendi nada!”,
“achei muito morto, só o padre falava!”, “o que o padre falava mesmo?”, “as
pessoas que estavam lá nem entenderam nada!”, e ainda na hora da Santa Missa,
no instante da Epístola um cristão pergunta: “já começou a Missa?”. Inocências
a parte, digo, pois, senhores e senhoras:
Para mim foi
um momento único! Quem não gostou, não é obrigado a assistir novamente (e digo
a todos que pensam ou que já pensaram o descrito no parágrafo anterior). Creio
que as pessoas que lá estavam (que não era um grupo muito grande, mas
‘raleavam’, com diz o sulista, os bancos da Basílica), estavam convictas do que
queriam, atentas ao que acontecia e sabendo muito bem o que se passava! Não entendeu
o que o padre disse? Só procurar estudar um pouco mais da língua oficial da sua
Igreja e logo mais saberá! Mas quero terminar para não exceder demais!
Saio realizado.
Minha primeira impressão do Rito Tridentino foi muito positiva. Bem celebrado,
com piedade e devoção, atentamente, com toda dignidade e sobriedade possível.
Nas Missas que participo do Rito Ordinário, por incrível que pareça, participo
muito melhor! Enxergando visivelmente a extrema adoração e respeito pela
Sagrada Eucaristia do Rito Extraordinário, faço de minha participação no Rito Ordinário
digna da mesma e extrema adoração e respeito. Afinal é o mesmo Cristo, ontem,
hoje e sempre! No Rito Extraordinário, Ordinário e no novo Movimento Litúrgico!
Quiçá pudera
eu participar novamente, inúmeras vezes. E assim o quero fazer. Percebi
nitidamente como os dois Ritos se complementam.
Perdão pelas
intervenções dos parênteses pelo corpo do texto; creio que herdei o jeito de
escrever de Escrivá, de tanto lê-lo. Teria eu muitíssimo mais coisas a
discorrer, mas não quero cansá-los, diletos, com meus sonhos visionários por
vir. Ao escrever isto tudo, olhei para o gramado à minha frente e, pensei (algo
suscetível para as críticas): “Quem dera, se o mundo fosse conservador como eu!”.
Agora sim,
termino reafirmando: são realmente muito otimistas as primeiras impressões de
um católico conservador!
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