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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Papa Francisco diz: "O centro de nossa fé não é somente um livro, mas uma história de salvação"

Na manhã de hoje, 12 de abril, o Santo Padre o Papa Francisco reuniu-se com a Pontifícia Comissão Bíblica, presidida pelo arcebispo Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em virtude do final de sua Assembleia plenária anual cujo tema foi a “Inspiração e verdade na Bíblia”.

O Papa Francisco ressaltou seu compromisso com o pleno respeito à tradição da Igreja, a única habilitada a interpretar corretamente as escrituras, e rejeitou "a interpretação subjetiva" das mesmas. 

As Sagradas Escrituras — disse o Pontífice — são o testemunho escrito da Palavra divina, o memorial canônico que testemunha o acontecimento da Revelação. Portanto, a Palavra de Deus precede a Bíblia e a ultrapassa. Por isso, o centro de nossa fé não é somente um livro, mas uma história de salvação e, sobretudo, uma pessoa, Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez carne. Precisamente porque o horizonte da Palavra divina abraça as Escrituras e se estende para além delas, é necessária a presença constante do Espírito Santo que “guia à toda verdade”. É necessário se inserir na corrente da grande Tradição que, com a ajuda do Espírito Santo e a orientação do Magistério, reconheceu os escritos canônicos como Palavra dirigida por Deus a seu povo e não cessou nunca de meditá-los e descobrir sua riqueza inesgotável”.

O Santo Padre fez um longa alusão ao Concílio Vaticano II e a Constituição Dei Verbum. Francisco reafirmou de maneira enfática a posição do magistério da Igreja, ao final do encontro disse o papa: "a interpretação das escrituras não pode ser apenas um esforço intelectual individual, mas deve ser sempre confrontado, inserido e autenticado pela tradição viva da Igreja", declarou. 

Quer dizer, os que esperavam um "afrouxamento" na ordem canônica vindo do Papa Francisco já podem se dar por vencidos, a Igreja de Jesus Cristo permanece a mesma, defendendo sua história e seus princípios, que são os de Cristo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Primeiras impressões de um católico conservador

               


Antes de tudo, apenas esclareço que não sou filósofo, em sentido estrito. Ou seja, não tenho grande dedicação à pesquisa e nem profunda reflexão neste campo, ao ponto de ser chamado de filósofo. Tenho apenas algumas pinceladas necessárias de uma graduação recém-terminada. Em segunda estância, escrevo aqui como um católico! Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam! E antes da crítica reacionária, aceito plenamente o Vaticano II! Porque esta afirmação? Apenas a título de esclarecimento a algum desavisado de plantão que possa ler o título com más intenções. O que aqui descrevo e transmito não é dogma, é doxa.
Porque do conceito ‘conservador’ no título referido? Em primeiro porque assim me considero! Aceitando plenamente o Vaticano II, também aceito a Tradição da Igreja como depósito da fé da mesma de dois mil anos. Dois mil anos! É muita história e riqueza espiritual! Assim, (agora no âmbito estritamente litúrgico, pois é a Santa Missa o cerne deste artigo) creio que muitos gestos, ritos, palavras, ações contidas no Rito litúrgico Ordinário da Santa Missa antes do Vaticano II têm sua importância de complemento e aprofundamento do mistério eucarístico (ou vice-versa, pra quem entender o que quis dizer). Assim gosto de me inserir nesta palavra: conservador. Conservando o que é importante, não anularemos o atual, mas o complementaremos (segundo o correto entendimento. Correto!). Percebo que hoje, os católicos que “liturgicamente” não são conservadores, são em geral aqueles que desprezam o rito antigo, acham que o novo é atualização (prestes a cair numa profunda ruptura) ou mesmo nem conhecem aquilo que acontecia antes do Concílio (digo por experiência do que já vi – na China, não no Brasil!).


Com isso, não pretendo também dizer que, na questão litúrgica, temos partidos subdivididos em visões ou interesses. Não! A essência é a mesma; o mistério é o mesmo: Cristo se oferece continuamente na Eucaristia pela humanidade! Não somos e nem poderíamos ser uma Igreja subdividida em partidos, já que a libertação já ocorreu totalmente no calvário de Nosso Senhor. Corremos atrás da unidade pedida por Cristo; e antes de pensar em ecumenismo, pensemos na unidade dentro da própria Igreja em torno do báculo de Pedro! Mas mesmo assim, gosto de considerar assim: conservador.
Agora vamos ao ponto filosófico: conservador ou tradicional? Prefiro conservador, para dar destaque a este sentido de conservar aquilo tudo que pode ajudar e que hoje é, de certo modo, deixado de lado. Lembro-me das ditosas aulas de filosofia da cultura quando se falava das correntes do século XIX e XX. Quando se dividiu a apresentação de seminários, vi o tema ‘tradicionalismo’. Fiquei eufórico, imaginava já o esplendor da Igreja, da Liturgia intacta, da pomposidade, das grandes catedrais, altares... Mas na apresentação saiu tudo diferente! Que graça!


O tradicionalismo foi um movimento filosófico-teológico que pregava o conhecimento humano (razão) impossibilitado de conhecer verdadeiramente (!) as realidades espirituais. Ele visava à oposição ao fideísmo, que pregava o contrário (a fé exacerbada sem a razão). Os expoentes do tradicionalismo são Bautain e Bonnetty (tradicionalismo moderado). Enfim, tanto tradicionalismo quanto fideísmo foram condenados pelo Vaticano I (I, não II). Atualmente alguns usam ‘tradicionalismo’ para falar dos grupos doutrinário-litúrgicos que defendem a interpretação justa do Vaticano II segundo o sonho de João XXIII e não dos cardeais reacionários-políticos; ou mesmo para falar de Lefebvre e Mayer ou os não separados (?) Fedeli, Plínio e Clá, e suas devidas companhias. Enfim, parece “politicagem” demais. Para evitar isso e a confusão com aquela heresia discorrida rapidamente antes, prefiro evitar. Gosto de ‘conservador’.
Tudo isso só pra contextualizar. Gosto de contextualizações, história, essas coisas. Creio que seria um bom professor! Ou escritor? Mas isso não vem ao caso. Não agora.
Caros leitores que leram essa pataquada toda acima. Tudo isso para explicar o motivo integral do título e dizer-lhes minha alegria, que já dura uma semana e promete perdurar: pela primeira vez, assisti uma Santa Missa celebrada no Rito Tridentino! (e para os que ainda não entenderam ou não retornaram ao título, por isso “primeiras impressões...”). Isso aconteceu venturosamente num local não menos digno de tanta graça: na Basílica do Mosteiro de São Bento, no centro antigo de São Paulo. Mas alguns se perguntam: mas só agora assististe à Missa Tridentina? Sim. Saí do exílio barriga-verde no começo deste ano e vim parar em terras de garoa a pouco!


Antes que acabe por falar asneiras, vamos ao que me propus escrever: as primeiras impressões que tive. Na verdade não vi surpresas externas. Nada é tão diferente do que já tinha visto em vídeos, imagens e afins. O rito era aquele que trazem aqueles antigos ‘missais cotidianos’ que tinha contato. Mas algo foi inédito: a emoção de, sentado distraído no coro do mosteiro, ouvir aquele suntuoso órgão e, ao mesmo tempo, ver entrando em procissão um distinto sacerdote de barrete e pianetta roxa. Nunca mais esquecerei esta cena. Foi magnífico! Confesso que neste mesmo momento verteu-me uma lágrima sincera. Quando eu olhava para o lado direito, via piedosas mulheres de véu (e, inacreditavelmente ou não, jovens, compreenderam?, jovens mulheres com seus maridos e filhinhos pequenos); erguendo os olhos contemplava aquelas enormes imagens dos apóstolos, parecendo veras colunas da Fé indefectível da Igreja (sim, pois a Igreja é santa, e não santa e pecadora – assunto para o próximo artigo) que assistiam fixos tal mistério (a imagem de São Paulo me encabulava: ele olhava para fora como que indicando: “depois não se esqueça da missão!” e ainda me pergunto: “qual será esta missão?”. Creio que a estou realizando agora).


O momento foi inesquecível. Não vou transcrevê-lo, porque logo preciso terminar esse artigo. Não fui sozinho. Na saída do mosteiro e na volta para casa algumas questões apareceram da boca de alguns (e do pensamento engenhoso também): “não entendi nada!”, “achei muito morto, só o padre falava!”, “o que o padre falava mesmo?”, “as pessoas que estavam lá nem entenderam nada!”, e ainda na hora da Santa Missa, no instante da Epístola um cristão pergunta: “já começou a Missa?”. Inocências a parte, digo, pois, senhores e senhoras:
Para mim foi um momento único! Quem não gostou, não é obrigado a assistir novamente (e digo a todos que pensam ou que já pensaram o descrito no parágrafo anterior). Creio que as pessoas que lá estavam (que não era um grupo muito grande, mas ‘raleavam’, com diz o sulista, os bancos da Basílica), estavam convictas do que queriam, atentas ao que acontecia e sabendo muito bem o que se passava! Não entendeu o que o padre disse? Só procurar estudar um pouco mais da língua oficial da sua Igreja e logo mais saberá! Mas quero terminar para não exceder demais!


Saio realizado. Minha primeira impressão do Rito Tridentino foi muito positiva. Bem celebrado, com piedade e devoção, atentamente, com toda dignidade e sobriedade possível. Nas Missas que participo do Rito Ordinário, por incrível que pareça, participo muito melhor! Enxergando visivelmente a extrema adoração e respeito pela Sagrada Eucaristia do Rito Extraordinário, faço de minha participação no Rito Ordinário digna da mesma e extrema adoração e respeito. Afinal é o mesmo Cristo, ontem, hoje e sempre! No Rito Extraordinário, Ordinário e no novo Movimento Litúrgico!
Quiçá pudera eu participar novamente, inúmeras vezes. E assim o quero fazer. Percebi nitidamente como os dois Ritos se complementam.
Perdão pelas intervenções dos parênteses pelo corpo do texto; creio que herdei o jeito de escrever de Escrivá, de tanto lê-lo. Teria eu muitíssimo mais coisas a discorrer, mas não quero cansá-los, diletos, com meus sonhos visionários por vir. Ao escrever isto tudo, olhei para o gramado à minha frente e, pensei (algo suscetível para as críticas): “Quem dera, se o mundo fosse conservador como eu!”.


Agora sim, termino reafirmando: são realmente muito otimistas as primeiras impressões de um católico conservador!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Texto inédito do Papa recorda abertura do Vaticano II:

“Os Padres conciliares não podiam nem queriam criar uma Igreja nova. Não tinham o mandato nem o encargo para o fazer. Uma hermenêutica de ruptura é absurda”.  

O jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, publicou uma edição especial por ocasião do 50° aniversário de abertura do Concílio Vaticano II. A publicação, em 40 mil exemplares, é composta por narrativas intensas do período do concílio com detalhes de crônicas pouco conhecidas e fotografias raras. Abre essa edição o texto de Bento XVI que na época era jovem e participou como teólogo. Segue na íntegra, o texto do Santo Padre.
 

Foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de 1962 quando, com a entrada solene de mais de dois mil Padres conciliares na Basílica de São Pedro em Roma, se abriu o Concílio Vaticano II. Em 1931, Pio XI colocara no dia 11 de Outubro a festa da Maternidade Divina de Maria, em recordação do facto que mil e quinhentos anos antes, em 431, o Concílio de Éfeso tinha solenemente reconhecido a Maria esse título, para expressar assim a união indissolúvel de Deus e do homem em Cristo. O Papa João XXIII fixara o início do Concílio para tal dia com o fim de confiar a grande assembleia eclesial, por ele convocada, à bondade materna de Maria e ancorar firmemente o trabalho do Concílio no mistério de Jesus Cristo.

Foi impressionante ver entrar os bispos provenientes de todo o mundo, de todos os povos e raças: uma imagem da Igreja de Jesus Cristo que abraça todo o mundo, na qual os povos da terra se sentem unidos na sua paz. Foi um momento de expectativa extraordinária pelas grandes coisas que deviam acontecer. Os concílios anteriores tinham sido quase sempre convocados para uma questão concreta à qual deviam responder; desta vez, não havia um problema particular a resolver. Mas, por isso mesmo, pairava no ar um sentido de expectativa geral: o cristianismo, que construíra e plasmara o mundo ocidental, parecia perder cada vez mais a sua força eficaz. Mostrava-se cansado e parecia que o futuro fosse determinado por outros poderes espirituais. Esta percepção do cristianismo ter perdido o presente e da tarefa que daí derivava estava bem resumida pela palavra «actualização»: o cristianismo deve estar no presente para poder dar forma ao futuro. Para que pudesse voltar a ser uma força que modela o porvir, João XXIII convocara o Concílio sem lhe indicar problemas concretos ou programas. Foi esta a grandeza e ao mesmo tempo a dificuldade da tarefa que se apresentava à assembleia eclesial.

Obviamente, cada um dos episcopados aproximou-se do grande acontecimento com ideias diferentes. Alguns chegaram com uma atitude mais de expectativa em relação ao programa que devia ser desenvolvido. Foi o episcopado do centro da Europa – Bélgica, França e Alemanha – que se mostrou mais decidido nas ideias. Embora a ênfase no pormenor se desse sem dúvida a aspectos diversos, contudo havia algumas prioridades comuns. Um tema fundamental era a eclesiologia, que devia ser aprofundada sob os pontos de vista da história da salvação, trinitário e sacramental; a isto vinha juntar-se a exigência de completar a doutrina do primado do Concílio Vaticano I através duma valorização do ministério episcopal. Um tema importante para os episcopados do centro da Europa era a renovação litúrgica, que Pio XII já tinha começado a realizar. Outro ponto central posto em realce, especialmente pelo episcopado alemão, era o ecumenismo: o facto de terem suportado juntos a perseguição da parte do nazismo aproximara muito os cristãos protestantes e católicos; agora isto devia ser compreendido e levado por diante a nível de toda a Igreja. A isto acrescentava-se o ciclo temático Revelação-Escritura-Tradição-Magistério. Entre os franceses, foi sobressaindo cada vez mais o tema da relação entre a Igreja e o mundo moderno, isto é, o trabalho sobre o chamado «Esquema XIII», do qual nasceu depois a Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo. Atingia-se aqui o ponto da verdadeira expectativa suscitada pelo Concílio. A Igreja, que ainda na época barroca tinha em sentido lato plasmado o mundo, a partir do século XIX entrou de modo cada vez mais evidente numa relação negativa com a era moderna então plenamente iniciada. As coisas deviam continuar assim? Não podia a Igreja cumprir um passo positivo nos tempos novos? Por detrás da vaga expressão «mundo de hoje», encontra-se a questão da relação com a era moderna; para a esclarecer, teria sido necessário definir melhor o que era essencial e constitutivo da era moderna. Isto não foi conseguido no «Esquema XIII». Embora a Constituição pastoral exprima muitas elementos importantes para a compreensão do «mundo» e dê contribuições relevantes sobre a questão da ética cristã, no referido ponto não conseguiu oferecer um esclarecimento substancial.

Inesperadamente, o encontro com os grandes temas da era moderna não se dá na grande Constituição pastoral, mas em dois documentos menores, cuja importância só pouco a pouco se foi manifestando com a recepção do Concílio. Trata-se antes de tudo da Declaração sobre a liberdade religiosa, pedida e preparada com grande solicitude sobretudo pelo episcopado americano. A doutrina da tolerância, tal como fora pormenorizadamente elaborada por Pio XII, já não se mostrava suficiente face à evolução do pensamento filosófico e do modo se concebia como o Estado moderno. Tratava-se da liberdade de escolher e praticar a religião e também da liberdade de mudar de religião, enquanto direitos fundamentais na liberdade do homem. Pelas suas razões mais íntimas, tal concepção não podia ser alheia à fé cristã, que entrara no mundo com a pretensão de que o Estado não poderia decidir acerca da verdade nem exigir qualquer tipo de culto. A fé cristã reivindicava a liberdade para a convicção religiosa e a sua prática no culto, sem com isto violar o direito do Estado no seu próprio ordenamento: os cristãos rezavam pelo imperador, mas não o adoravam. Sob este ponto de vista, pode-se afirmar que o cristianismo, com o seu nascimento, trouxe ao mundo o princípio da liberdade de religião. Todavia a interpretação deste direito à liberdade no contexto do pensamento moderno ainda era difícil, porque podia parecer que a versão moderna da liberdade de religião pressupusesse a inacessibilidade da verdade ao homem e, consequentemente, deslocasse a religião do seu fundamento para a esfera do subjectivo. Certamente foi providencial que, treze anos depois da conclusão do Concílio, tivesse chegado o Papa João Paulo II de um país onde a liberdade de religião era contestada pelo marxismo, ou seja, a partir duma forma particular de filosofia estatal moderna. O Papa vinha quase duma situação que se parecia com a da Igreja antiga, de modo que se tornou de novo visível o íntimo ordenamento da fé ao tema da liberdade, sobretudo a liberdade de religião e de culto.

O segundo documento, que se havia de revelar depois importante para o encontro da Igreja com a era moderna, nasceu quase por acaso e cresceu com sucessivos estratos. Refiro-me à declaração Nostra aetate, sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. Inicialmente havia a intenção de preparar uma declaração sobre as relações entre a Igreja e o judaísmo – um texto que se tornou intrinsecamente necessário depois dos horrores do Holocausto (shoah). Os Padres conciliares dos países árabes não se opuseram a tal texto, mas explicaram que se se queria falar do judaísmo, então era preciso dedicar também algumas palavras ao islamismo. Quanta razão tivessem a este respeito, só pouco a pouco o fomos compreendendo no ocidente. Por fim cresceu a intuição de que era justo falar também doutras duas grandes religiões – o hinduísmo e o budismo – bem como do tema da religião em geral. A isto se juntou depois espontaneamente uma breve instrução relativa ao diálogo e à colaboração com as religiões, cujos valores espirituais, morais e socioculturais deviam ser reconhecidos, conservados e promovidos (cf. n. 2). Assim, num documento específico e extraordinariamente denso, inaugurou-se um tema cuja importância na época ainda não era previsível. Vão-se tornando cada vez mais evidentes tanto a tarefa que o mesmo implica como a fadiga ainda necessária para tudo distinguir, esclarecer e compreender. No processo de recepção activa, foi pouco a pouco surgindo também uma debilidade deste texto em si extraordinário: só fala da religião na sua feição positiva e ignora as formas doentias e falsificadas de religião, que têm, do ponto de vista histórico e teológico um vasto alcance; por isso, desde o início, a fé cristã foi muito crítica em relação à religião, tanto no próprio seio como no mundo exterior.

Se, ao início do Concílio, tinham prevalecido os episcopados do centro da Europa com os seus teólogos, nas sucessivas fases conciliares o leque do trabalho e da responsabilidade comuns foi-se alargando cada vez mais. Os bispos reconheciam-se aprendizes na escola do Espírito Santo e na escola da colaboração recíproca, mas foi precisamente assim que se reconheceram servos da Palavra de Deus que vivem e trabalham na fé. Os Padres conciliares não podiam nem queriam criar uma Igreja nova, diversa. Não tinham o mandato nem o encargo para o fazer: eram Padres do Concílio com uma voz e um direito de decisão só enquanto bispos, quer dizer em virtude do sacramento e na Igreja sacramental. Então não podiam nem queriam criar uma fé diversa ou uma Igreja nova, mas compreendê-las a ambas de modo mais profundo e, consequentemente, «renová-las» de verdade. Por isso, uma hermenêutica da ruptura é absurda, contrária ao espírito e à vontade dos Padres conciliares.

No Cardeal Frings, tive um «pai» que viveu de modo exemplar este espírito do Concílio. Era um homem de significativa abertura e grandeza, mas sabia também que só a fé guia para se fazer ao largo, para aquele horizonte amplo que resta impedido ao espírito positivista. É esta fé que queria servir com o mandato recebido através do sacramento da ordenação episcopal. Não posso deixar de lhe estar sempre grato por me ter trazido – a mim, o professor mais jovem da Faculdade teológica católica da universidade de Bonn – como seu consultor na grande assembleia da Igreja, permitindo que eu estivesse presente nesta escola e percorresse do interior o caminho do Concílio.

Este livro reúne os diversos escritos, com os quais pedi a palavra naquela escola; trata-se de pedidos de palavra totalmente fragmentários, dos quais transparece o próprio processo de aprendizagem que o Concílio e a sua recepção significaram e ainda significam para mim. Em todo o caso espero que estes vários contributos, com todos os seus limites, possam no seu conjunto ajudar a compreender melhor o Concílio e a traduzi-lo numa justa vida eclesial.

Agradeço sentidamente ao arcebispo Gerhard Ludwig Müller e aos colaboradores do Institut Papst Benedikt XVI pelo extraordinário compromisso que assumiram para realizar este livro.

 Castel Gandolfo, na memória do bispo Santo Eusébio de Vercelas, 2 de agosto de 2012.
Papa Bento XVI

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Paulo VI, o Papa que concluiu o Concílio.


 Em 1937 foi nomeado assistente do Cardeal Pacelli,  que então desempenhava o cargo de Secretário de Estado. Neste posto de  serviço, Monsenhor Montini prestaria um valioso apoio na ajuda que a Santa Sé brindou a  numerosos refugiados e presos de guerra. Em 1944, já sob o pontificado de Pio XII, foi nomeado diretor de assuntos eclesiásticos internos e oito anos mais tarde,  pró-secretário de Estado. Em 1954, o Papa Pio XII o nomeou Arcebispo de Milão. O novo Arcebispo haveria de enfrentar muitos desafios, sendo o mais delicado de todos o problema social. Entregando-se com grande energia ao cuidado do rebanho que se lhe confiava, desenvolveu um plano pastoral que teria como pontos centrais a preocupação pelos problemas sociais, a  aproximação dos trabalhadores  industriais à Igreja e a renovação da vida litúrgica.  Pelo respeito e confiança que soube ganhar por parte da  imensa multidão de operários, Montini seria conhecido como o "Arcebispo dos operários".
   Em dezembro de 1958 foi escolhido Cardeal por João XXIII que, ao mesmo tempo, lhe outorgou um importante rol na preparação do Concílio vaticano II ao nomeá-lo seu assistente.  Durante estes anos, prévios ao Concílio, o Cardeal Montini realizou algumas viagens importantes: Estados Unidos (1960);  Dublin (1961);  África (1962). 
O arcebispo de Milão, Giovanni Battista Montini visitando o Sacro Monte de Varese
Como Arcebispo de Milão.
        
Pontificado

O Cardeal Montini contava com 66 anos quando foi eleito sucessor do Pontífice João XXIII, em 21 de junho de 1963, tomando o nome de Paulo VI. Três dias antes de sua coroação, realizada em 30 de junho, o novo Papa dava a conhecer a  todos os programa de seu pontificado: Seu primeiro e  principal esforço se  orientava à culminação e posta em marcha ao grande Concílio, convocado e inaugurado por seu predecessor.  Além disto, o anúncio universal do Evangelho, o trabalho em favor da unidade dos cristãos e do diálogo com os não crentes,  a paz e solidariedade na ordem social - esta em escala mundial mereceriam sua especial preocupação pastoral.

 O Papa Paulo VI e o Concílio

  O pontificado de Paulo VI está profundamente vinculado ao Concílio Vaticano II, tanto em seu desenvolvimento como na imediata aplicação. Em sua primeira encíclica, a pragmática Ecclesiam suam, publicada em 1966 ao finalizar a  segunda sessão do Concílio, estabelecia que eram três os caminhos pelos que o Espírito Santo lhe impulsionava à conduzir a Igreja,  respondendo aos "ventos de renovação" que desenrolavam as velas da barca de Pedro. Dizia ele mesmo no dia anterior à publicação de  sua encíclica Ecclesiam suam: "O primeiro caminho é espiritual;  se refere à consciência que a Igreja deve ter e fomentar de si mesma. O segundo é moral;  se refere à renovação ascética, prática, canônica, que a Igreja necessita para dispôr-se à consciência mencionada, para ser pura, santa, forte, autêntica. E o terceiro caminho é apostólico;  o temos designado com termos hoje em voga:  o diálogo;  quer dizer, se refere este caminho ao modo,  a arte, ao estilo que a Igreja deve infundir em  sua atividade ministerial no concerto dissonante, volúvel e complexo do mundo contemporâneo. Consciência, renovação, diálogo, são os caminhos que hoje se abrem ante à Igreja viva e que formam os três capítulos da encíclica".



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Padres Conciliares do Brasil

 
 
 Dom Serafim Cardeal Fernades de Araújo
Cardeal Arcebispo Emérito de Belo Horizonte (MG)

 Dom José Mauro Ramalho de Alarcón Santiago
Bispo Emérito de Iguatu (Ceará)
(A informação é do Boletim da CNBB, 22-04-2012)

Levantamento feito no início deste ano de 2012 pelo professor Fernando Altemeyer Junior, do departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, oferece dados importantes para se contemplar a participação no Concílio.

São 179 bispos do mundo inteiro que estão vivos e participaram do Concílio, entre eles 10 são brasileiros, sendo que um deles deixou o ministério episcopal. São 9 bispos, portanto, que estiveram ao menos em uma das quatro sessões conciliares:

1. Dom Armando Círio, OSI, arcebispo emérito de Cascavel-PR, nascido em 30/4/1916, atualmente com 95 anos de idade, participou da 1ª. e da 3ª. sessões do Vaticano II.

2. Dom Jaime Luiz Coelho, arcebispo emérito de Maringá-PR, nascido em 26/7/1916, atualmente com 95 anos de idade, participou de todas as quatro sessões 1ª, 2ª, 3ª e 4ª do Vaticano II.

3. Dom Servílio Conti, imc, prelado emérito de Roraima-RR, nascido em 19/10/1916, atualmente com 95 anos de idade, participou da 4ª. sessão do Vaticano II.

4. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba-PB, nascido em 15/03/1919, atualmente com 92 anos de idade, participou da 1ª., 2ª., 3ª, e da 4ª. sessões do Vaticano II.

5. Dom Eugenio de Araújo Sales, cardeal arcebispo emérito do Rio de Janeiro-RJ, nascido em 08/11/1920, atualmente com 91 de idade, participou da 1ª., 2ª., 3ª, e da 4ª. sessões do Vaticano II.

6. Dom Waldyr Calheiros Novaes, bispo emérito de Barra do Piraí-Volta Redonda-RJ, nascido em 29/7/1923, atualmente com 88 de idade, participou da 3ª. e da 4ª. sessões do Vaticano II.

7. Dom Serafim Fernandes de Araújo, cardeal arcebispo emérito de Belo Horizonte-MG, nascido em 13/08/1924, atualmente com 87 anos de idade, participou da 1ª., 2ª., e da 4ª. sessões do Vaticano II.

8. Dom José Mauro Ramalho Alarcón Santiago, bispo emérito de Iguatu-CE, nascido em 14/05/1925, atualmente com 86 anos de idade, participou da 1ª., 2ª., 3ª. e da 4ª. sessões do Vaticano II.

9. Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, arcebispo emérito de Goiânia-GO, nascido em 10/06/1926, atualmente com 85 anos de idade, participou da 4ª. sessão do Vaticano II.

Segundo a pesquisa do professor Altemeyer, atualmente, ou seja, na primeira metade do mês de janeiro de 2012, há 5207 bispos católicos vivos e atuantes em todo o planeta e dentre eles estão aqueles que participaram do Concílio Vaticano II, ocorrido entre 1962 a 1965 em Roma, na Itália.

A primeira sessão se deu entre 11/10/1962 até 8/12/1962: presença de 2448 padres conciliares. Estão vivos 46 bispos presentes nesta sessão, espalhados pelo mundo inteiro.

A segunda sessão foi celebrada de 29/09/1963 até 04/12/1963 com a presença de 2488 padres e destes estão vivos 55 padres.

A terceira sessão transcorreu de 14/9/1964 até 21/11/1964 com a presença de 2468 padres e destes estão vivos 67 padres conciliares.

A quarta sessão ocorreu de 14/09/1965 até 08/12/1965, com a presença de 2625 padres, e destes estão vivos 78 bispos e abades que participaram da última sessão conciliar.


Abertura do Ano da Fé e 50 anos do Concílio Vaticano II


Amados irmãos em Cristo,

como bem sabemos, a Santa Igreja comemora nesta quinta-feira, 11 de outubro de 2012, os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II; ao mesmo tempo em que o Santo Padre declara oficialmente aberto o proclamado ano da fé. As datas não são mera coincidência! O Papa Bento XVI conhece a necessidade de intensificar o crescimento da fé no coração dos fiéis de toda Igreja. Nas palavras dele mesmo: "Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força». Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano." (PORTA FIDEI, 9)*

Dessa forma, o "Dominus Vobiscum" se alegra em retornar (após 1 ano) anunciando que também prestará seu papel com matérias que possam acrescentar na vida dos cristãos católicos um pouco mais de conhecimento da riqueza do Vaticano II que muitos talvez nunca tenham ouvido falar; assim como apresentar ao longo desse ano seus documentos tão importantes que muito poderão contribuir para o crescimento de nossa fé.

Louvado Seja Deus!

* Carta Apostólica sob a forma de motu próprio "PORTA FIDEI" com a qual é proclamado o Ano da Fé.