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sábado, 16 de agosto de 2014

O Dogma da Assunção de Maria ao céus


"Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".
Pio XII 

A Igreja no Brasil celebra neste domingo, 17 de agosto, a Festa da Assunção de Maria Santíssima ao céu, transferida do dia 15 de agosto. A assunção de Maria é um dogma de fé, proclamado por Pio XII em 01 de novembro de 1950.


I. Aspectos históricos

A Igreja professou unanimemente desde os primeiros séculos (V-VI) a sua fé na Assunção de Maria Santíssima em corpo e alma à gloria celestial. Porém, a tradição enraizada na cultura do povo só foi solenemente declarada como “dogma de fé” em 1950, por ordem de Sua Santidade o Papa Pio XII.

 
Pio XII é conduzido na sede gestatória para a solene proclamação do dogma
 
A promulgação do dogma se deu através da constituição apostólica “Munificentissimus Deus”, assinada e publicada em 01 de novembro de 1950. A definição dogmática foi antecedida por uma consulta ao episcopado do mundo inteiro, na qual o Papa – através da carta “Deiparae Virginis”, de 01 de maio de 1946 – consultava aos seus irmãos Bispos sobre a assunção de Maria.

Naturalmente a manifestação dos Bispos foi a mesma ao considerar que transcorridos seus dias na terra Maria Santíssima foi levada, em corpo e alma, para junto de seu Filho, o Redentor do Universo.

Desde a segunda metade do século XIX já haviam sido enviadas, de diversas partes do mundo, solicitações favoráveis a promulgação deste dogma. No Concílio Vaticano I (1869-1870) vemos que 204 padre conciliares haviam proposto a definição do dogma da Assunção de Maria.
O Papa Pacelli em certo trecho da constituição, diz: “Quando fomos elevado ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.”

II. Dogma e o papel de Maria Santíssima na Salvação humana

Os dogmas são como setas que nos indicam o caminho certo por onde seguir. No dizer do Catecismo (n. 88) se entende que:

“O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com elas um nexo necessário.”

O dogma é, portanto, uma doutrina na qual a Igreja: propõe uma verdade da fé de maneira definitiva, sendo está uma verdade revelada, de forma que obriga o povo cristão a crer nela, em sua totalidade, de modo que sua negação é repelida como heresia e estigmatizada com anátema.

Definidos pelo magistério da Igreja de maneira clara e definitiva, os dogmas são verdades de fé, contidas na Bíblia e na Tradição. Não se tratam de invenções novas, ou coisa apenas dos homens, de algum santo ou de algum Papa.
 
Os dogmas chamados marianos são quatro. Eles afirmam que Maria é:

- Theotokós, quando o Concílio de Éfeso (431) declarou a maternidade Santíssima de Maria, sendo ela a “portadora de Deus;”

- Virgem antes e depois do parto, embora fosse encarada como revelação dogmática, pela Igreja do Oriente e do Ocidente, a virgindade de Maria foi definida dogmaticamente apenas pelo Concílio de Trento, em 1555. Todavia, como indicam escritos de São Justino Mártir e Orígenes a virgindade já questão de fé desde o cristianismo primitivo;

- Imaculada Conceição, ou seja, que a concepção de Maria foi realizada sem qualquer mancha de pecado original, no ventre da sua mãe. Dessa forma, ela foi preservada por Deus do pecado desde o primeiro momento da sua existência, como apontam as palavras do Anjo Gabriel – "sempre cheia de graça divina" – kecaritwmenh, em grego. Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Papa Pio IX na Constituição Ineffabilis Deus, em 8 de dezembro de 1854, e esta intimamente ligada ao dogma da Assunção;

- Assunta aos céus, sendo elevada ao céu de corpo e alma, após a sua morte.


Acreditamos que, quanto mais nos assemelhamos à Maria, mais temos condição de viver em união com Cristo. Essa é nossa experiência, como salienta São Luís Maria de Montfort – Maria é o caminho mais próximo, direto e imediato para encontrar-se com Jesus.

Na prática, quando as pessoas chegam à intimidade com Maria, não se dirigem a Ela por Ela mesma, mas para que possam chegar a Jesus. Pelo amor a Maria, pela vinculação a Ela, chegam a uma vinculação mais profunda e perfeita com Jesus. Porque imitar as atitudes e virtudes de Maria é fazer o que todo o cristão deve fazer, já que Ela foi pessoa mais próxima de Jesus, que mais aprendeu d'Ele. 


III. A festa litúrgica

A Assunção de Maria antes da solene proclamação do dogma, em 1950, era celebrada na chamada “dormição de Maria”, quando os cristãos – sobretudo do Oriente, e assim ainda permanece – celebravam a passagem da Mãe de Deus para o reino dos céus.

Na Igreja do Oriente a dormição era e é celebrada sempre em 15 de agosto, desde o século VI, e a festa é antecipada de 14 dias de jejum e intensa oração.

No Ocidente, além da herança oriental, a data da festa da Assunção está vinculada a memória chamada de Santa Maria de Agosto, celebrada em Portugal. Foi na véspera desta festa, no ano de 1385, que se travou a decisiva Batalha de Aljubarrota, na qual São Nunes Àlvares Pereira, Condestável de Portugal (canonizado por Bento XVI, em 2009), triunfou sobre o exército do rei de Castela, adepto do anti-Papa de Avinhão.

No Brasil quando o dia 15 de agosto ocorre em dia ferial à festa é transferida para o domingo seguinte.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Parabéns, Eminência!

Dom Serafim Fernandes de Araújo, Arcebispo-Emérito de Belo Horizonte e Cardeal Presbítero de São Luís Maria Grignion de Montfort completa neste dia 13 agosto 90 anos de seu nascimento. 


Natural da cidade de Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, Serafim fez seus estudos de Filosofia no Seminário de Diamantina. Ainda seminarista foi levado a Roma para cursar a Faculdade de Teologia, junto a Universidade Gregoriana, onde também obteve mestrado em Direito Canônico. 

Em 12 de março de 1949 na Basílica de São João do Latrão, a Catedral do Papa, foi ordenado sacerdote. Em meados de 1951 retornou ao Brasil onde exerceu diversas atividades pastorais até que em 19 de janeiro de 1959 foi nomeado Bispo Titular de Vewrinopoli e Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, aos 34 anos de idade. 

Em 07 de maio do mesmo ano ocorreu sua Sagração Epíscopal. O bispo ordenante foi Dom José Newton de Almeida Batista, falecido em 2001, então Arcebispo Metropolitano de Diamantina. Serafim assumiu como Auxiliar de Dom João Resende Costa, SDB e mais tarde, em 22 de novembro de 1982,  foi nomeado Bispo-Coadjutor com direito a sucessão.  

Assumiu a Arquidiocese de Belo Horizonte, como seu terceiro Arcebispo Metropolitano em 05 de fevereiro de 1986. Foi a frente desta importante diocese brasileira que foi Criado Cardeal por São João Paulo II, no Consistório público de 21 de fevereiro de 1998. Serafim foi único Cardeal que ocupou a Catedral de Belo Horizonte, acredita-se que sua criação deva-se ao contato íntimo que tinha com o Pontífice e por suas muitas contribuições sociais e culturais a sociedade mineira. 

Em março de 2004 passou a condução do báculo pastoral de Belo Horizonte para o atual Arcebispo, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, vindo de Auxiliar da Sé Primaz do Brasil. Atualmente o Cardeal Serafim reside em sua residência particular, no centro de BH. Permanece como forte influência eclesiástica e cultura da capital mineira e arredores, além de ser conselheiro do Atlético Mineiro.

Estão previstas duas homenagens para o Cardeal de nove décadas. Uma hoje a noite na belíssima Igreja de São José, no centro de Belo Horizonte e outra no próximo domingo, 17 de agosto, no Santuário de Adoração Perpetua da Arquidiocese na Serra da Piedade. 

Neste ano além dos 90 anos, Serafim completa 65 anos de Sacerdócio e 55 de episcopado. 

Parabéns, Eminência! 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Um santo sem faixa, mas, com joelhos

Certa vez estava reunido o grande clero de Lyon, na França. Todos os padres apresentaram-se da melhor maneira possível: batina engomada, faixa bem alinhada e ferrailo limpo. Entre eles, porém, destacava-se um pela pobreza de suas vestes. 

Ao observá-lo um velho Cônego da Catedral disse:

“Veja aquele padre sem faixa. Que coisa feia.”

O Bispo ao ouvir a exclamação retrucou, dizendo:

 “O Cura D’Ars sem faixa vale muito mais do que vocês com.”

 Assim era o pobre Padre João Maria Battista Vianney, o Cura D’Ars. 


 
Deus foi exilado da França.

Na pequena cidade de Dardilly, ao norte de Lyon, em 08 de maio de 1786 nasceu João Maria, quarto dos seis filhos de Mateus e Maria Vianney, uma família pobre de bens materiais, mas, rica em virtudes cristãs. 

A igreja paroquial de Dardilly havia sido fechada há algum tempo, por ordem do governo francês. O clero naquele país estava dividido entre “padres juramentados” e “não-juramentados”, ou seja, os de acordo ou não com a “Constituição Civil do Clero”, votada pela Assembleia dos Estados Gerais em julho de 1790, que subordinava totalmente a Igreja na França ao Estado e abolia as instituições de ensino e assistência social mantida por religiosos. Havia nesse período uma incitação à separação da Igreja Universal.

Sabe-se que mais da metade do clero francês foi contra a Constituição e que apenas oito Bispos prestaram o tal juramento. Os não juramentados foram perseguidos e, a partir de setembro de 1792, guilhotinados.

É neste contexto anti-clericalista que nasce o pequeno João Maria. Ele mesmo fez sua primeira comunhão numa casa de campo, em uma missa clandestina, quando já passava dos 13 anos de idade. 

Em 1789 a Revolução Francesa toma seu estopim. Deus estava exilado da França. 

Somente em 1800 as igrejas foram reabertas. Deus voltara, mas, muitos o tinham esquecido. Vianney promete a si próprio que o faria voltar aos corações da França neo-pagã.

Formação sacerdotal.

Em 1806, não distante de Dardilly, o padre Charles de Balley acolhia jovens que se apresentavam para a formação sacerdotal, antes de enviá-los para o seminário. João Maria se inscreveu para a “escola paroquial”, porém, ali havia um caso desesperador: ele já contava mais de vinte anos e mal e mal conhecia os primeiros rudimentos da leitura e escrita.

Desde os primeiros momentos entre o Padre Balley e seu jovem pupilo houve um relação profunda e uma amizade sincera.

Balley tentou ensinar latim ao jovem Vianney, mas ele não atingia os objetivos, em contrapartida era brilhante nos estudos da fé e da moral. Muitas foram as tentativas para que ele fosse admitido a algum seminário, porém, todas foram frustradas uma vez que ele não dominava a língua eclesiástica. 

Somente no início de 1815 foi que o padre Balley conseguiu que Vianney fosse entrevistado na sua presença, por um padre nomeado pelo Bispo. Na ocasião ele obteve êxito e sua ordenação sacerdotal foi marcada para 13 de agosto daquele mesmo ano.


O caminho do céu.

Após a Ordenação o Bispo de Lyon decidiu que ele ficaria na paróquia, junto do Padre Balley, e que não poderia administrar o sacramento da confissão. Em 16 de dezembro de 1817 morreu o velho pároco e João Maria foi transferido para Ars-em-Dombes.

Ars era uma pequena aldeia, com 40 casas e 270 habitantes. Como todos os pequenos aglomerados de camponeses da região não brilhava pela santidade. Ainda havia fé em Deus, mas escondida sob a cinza da ignorância religiosa e de uma prática moral que deixava muito a desejar.
João Maria chegou aquela localidade em 11 de fevereiro de 1818. Conta-se que ao se dirigir para lá encontrou um menino muito pobre, a quem disse: 

“Mostra-me o caminho de Ars e te mostrarei o caminho do céu.”

Ao chegar na pequena aldeia ele encontrou a capela abandona, sendo utilizada como estábulo para os animais. Sua primeira ação foi pôr “ordem na casa” e visitar todos os paroquianos, para que conhecessem o novo Cura de Almas. 
 
Merece especial destaque o zelo litúrgico de Vianney. Sabe-se que vivia como pobre, mas, que para o culto era esmerado nas melhoras alfais e nos melhores vasos. Dignos para o Senhor. Além do que seus sermões eram sempre preparados com esmero. Costuma-se dizer que quando terminava a predica dominical, já se punha a preparar a do próximo domingo.

Ars não era paróquia e só foi elevada a essa condição três anos depois da chegada de Vianney. Quando provou que aquela região era necessitada de Deus e que ele realmente possuía condições de guia-los para o céu.

Seu zelo pastoral revelou-se logo quando de sua chegada: visitou todos os paroquianos; criou uma escola para as crianças, ao qual chamou de “Providência”; Erigiu a Irmandade do Rosário para as mulheres e do Santíssimo Sacramento para os homens. Envolveu a todos em ações caritativas e de vivência religiosa.

Aos poucos Ars começou a mudar com a ação apostólica do novo Paróco. A tal ponto que em um dos seus sermões, Vianney exclamou: “Meus irmãos, Ars não é mais Ars!”.

 
O Apóstolo do joelho.

 A medida que seu trabalho ia expandindo-se a fama de santidade de Vianney ia crescendo. Muitos recorriam a ele no confessionário, o que fez com o que Bispo tivesse que nomear um Coadjutor e, mais tarde, um grupo de padres para auxiliar o pároco.

Vianney passava horas atendendo as dezenas, depois centenas e milhares de penitentes que ao seu confessionário recorriam. Só sai de lá para celebrar a Santa Missa e para adorar a Jesus no sacrário. 

A vitalidade de seu apostolado – sem qualquer sombra de dúvidas – tinha sua raiz nos joelhos do velho cura: Vianney passava cerca de quatro horas adorando a Jesus sacramentado.

O excessivo trabalho nunca fez do Cura de Ars um ativista pastoral. João Maria jamais deixou de rezar e rezar muito, além do que nunca se privou de severas mortificações e penitencias. Conta-se que durante longos anos alimentou-se apenas de batatas cozidas, com sal.

Em muitas ocasiões ele tentou deixar Ars e recolher-se para oração, em um mosteiro. Dizia sempre estar preocupado com a sua própria salvação. Todas as suas três suas tentativas foram frustradas. Numa das ocasiões de fuga ele foi reconduzido a força para a Paróquia, pelos próprios paroquianos.

Vianney aspirava a vida contemplativa, mas, era na ação pastoral que Deus o queria. Lá em Arsn-em-Dombes houve uma verdadeiro renovação eclesial: conversões, penitencias e muita oração trouxeram Deus novamente ao coração de toda a Aldeia e a França.

O exemplo deste santo sacerdote é, ainda hoje, o modelo da Igreja: o de um sacerdote dedicado ao povo de Deus, em nome de Cristo, na Igreja. Há quem considere o exemplo de Vianney um pouco ultrapassado ou impraticável nas grandes metrópoles pós-modernas, entretanto, Deus continua sendo exilado de nossa sociedade e o mundo aspira por sacerdotes santos, homens de oração, de piedade, de coração e alma verdadeiramente sacerdotal. 

Deus chamou Vianney para si, em 04 de agosto de 1859; sentiu-se mal quando ouvia a confissões. Relutou em deixar ou confessionário, mas, foi retirado de lá e colocado sobre a cama, onde morreu na paz do Senhor, reconfortado pelos últimos sacramentos e por uma multidão que rezava por ele na cidade.


São Pio X o beatificou em 1905, Pio XI o inscreveu no rol dos santos em 1925, ao mesmo tempo que o declaro patrono dos párocos e do clero diocesano. São João XXII, em 1959, por ocasião do centenário da morte de Vianney escreveu a encíclica Sacerdoti nostri primordia, sobre o sacerdote e Bento XVI, por ocasião do sesquicentenário da Morte do Cura D’Ars convocou um ano sacerdotal (2009-2010).