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domingo, 23 de dezembro de 2012

O fascínio sempre novo da santidade



Com a luz da razão natural e da fé compreendemos que Deus criou o mundo para manifestar a sua glória. E em sua criação ele convoca a todos –homens e mulheres, jovens ou adultos- a uma finalidade comum: a santidade.

Pelo simples facto de existir, a criação proclama a glória de Deus: “narram os céus a glória de Deus e o firmamento as obras de suas mãos”. Deus, no entanto, quis dotar o homem de alma espiritual, elevou-o à ordem sobrenatural e, depois da queda, redimiu-o mediante a morte na Cruz do Verbo encarnado, tornando-o filho de Deus pelo batismo e partícipe da natureza divina.”A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus”. (Cfr. Conc. Vat. II, Const. pastoral Gaudium et Spes n 19/I).

Conforme o Catecismo da Igreja Católica n 1703, sobre sua natureza e finalidade, o homem: "Desde que é concebido, é destinado a bem-aventurança eterna". Portanto, os cristãos, de ontem e de hoje, são convocados a fazer parte da Jerusalém Celeste, contemplando a face gloriosa do criador, na comunhão dos santos.

A santidade consiste essencialmente numa plena e total identificação com Cristo Jesus, que se desenvolve nos pequenos e grandes acontecimentos de nossa vida terrena. Na apresentação de um livro, e num comentário ao pensamento do apóstolo da "Santidade Cotiana" o santo espanhol Josemaría Escrivá, há alguns anos atrás, o então Cardeal Joseph Ratzinger fez notar que a grande tentação do nosso tempo está em olhar a vida pessoal como se, depois do “big bang” da criação, Deus se tivesse “afastado” do mundo e não tivesse nada a ver com a nossa existência diária. 

Ante esta visão deformada, o então Cardeal convida a descobrir que Deus atua continuamente e que a santidade não consiste em gastar a vida fazendo acrobacias circenses, mas, em viver dentro da mais absoluta normalidade – mais ainda, santificando essa normalidade – sem ser, e sem se considerar, superior aos outros, deixando que Deus atue em nós e falando com Ele como com um amigo. 

Incontáveis as mentes humanas são os homens e mulheres que passada esta vida mortal, e tendo se identificado e configurado ao Cristo Jesus, contemplam hoje a face gloriosa da Trindade. Todavia, a Igreja como mãe e mestra, nos aponta alguns que são para todo o Orbe cristão modelo de heroicidade. 

Há quem diga que a santidade é coisa do passado; de velhos manuais tridentinos e pré-conciliares. Por disposição da providência sabemos que não. O Divino Paráclito continua a suscitar em nosso meio muitos coração enamorados do Senhor, que tiveram vida santa e obtiveram da Igreja a glória dos altares, estes são os santos e beatos. 

No século passado e mesmo em tempos hodiernos viveram muitos homens e mulheres que agora a Igreja nos apresenta como modelo e exemplo de que a santidade é condição que pode ser vivida das mais diversas formas e que é convocatória a todos nós: "Sede Santos, como vosso Pai é santo".

Elaboramos uma pequena lista, de pessoas que viveram no século passado e neste e que agora figuram entre nossos altares, eles são a prova do fascínio sempre novo da santidade:


Gemma Galgani (1878-1903)

Faleceu no início do século XX aos 24 anos na Itália.

Desde muito cedo experimentava fenômenos sobrenaturais como visões, êxtases, revelações, manifestações sobrenaturais miraculosas e estigmas periódicos.

Quando tinha 18 anos seu pai morreu e ela entrou para a casa de Mateo Giannini como serviçal doméstica. Ela desejava entrar para o convento das passionistas em Lucca, no qual o seu conselheiro espiritual era o diretor, mas foi rejeitada devido sua fragilidade física, saúde precária, que incluía uma meningite espinhal, e por ter visões místicas. Mais tarde, Gemma curou-se graças à intercessão de São Gabriel da Virgem Dolorosa.

Entre 1899 e 1901 Gemma sofreu por 18 meses os estigmas da Crucificação de Cristo (stigmata), além das marcas dos espinhos e dos açoites de Jesus. Experimentou visões de Cristo e da Virgem Maria e do seu Anjo da Guarda. 


Luiz Beltrami (1880-1951) e Maria Beltrami Quattrocchi (1881-1965)

Casal italiano, beatificados por João Paulo II.

Durante os estudos universitários em Roma, conheceram-se e apaixonaram-se a primeira vista. Casaram-se em 1905 e viveram juntos por 50 anos na primeira metade do século XX, no qual a fé em Cristo foi posta à dura prova, por causa das duas Grandes Guerras. Maria e Luis amavam-se de verdade, mas reconheciam que seu amor era fruto de um amor maior: o amor de Deus! Por isso, em sua vida, sempre à luz do Evangelho, alimentaram com grande intensidade humana o amor matrimonial e dedicaram-se à vida familiar e comunitária.

Maria Corsini, nascida de família nobre de Florença, também era apaixonada pela musica. Trabalhou com voluntária da Cruz Vermelha durante a Guerra da Etiópia e na Segunda Guerra Mundial. Foi Catequista, era também comprometida com varias associações de caridade, como a Ação Católica Feminina. No lar dos Quattrocchi, não eram raras às vezes em que seus filhos os viram acolhendo em casa refugiados da guerra e organizando grupos de “Scouts” com jovens dos bairros pobres de Roma durante o pós-guerra.

Durante a gravidez dos quatros filhos foi sugerido o aborto. A decisão do casal de não o aceitar, nada mais foi que uma decisão coerente de Cristãos Católicos, comprometidos com o evangelho e com a vida. Quando se vive o batismo, todas as decisões da vida são tomadas baseadas na fé e na esperança e cujo fim é o amor.

Maria, Luis e seus filhos, viveram uma vida normal, sem nada de extraordinário, cultivaram uma profunda espiritualidade centrada na eucaristia e na devoção filial à Santíssima Virgem, com a reza diária do Santo Terço.

Luis faleceu em 1951, com 71 anos de idade e Maria em 1965, com 81 anos, sendo o 1º casal, na historia da Igreja, elevado às honras dos altares. Seus filhos, Padre Tarcisio e Padre Paolino, ambos com 90 anos, e Enriqueta, participaram da missa de beatificação de seus pais.


Teresa Benedita da Cruz (1891 – 1942)

Nascida judia, a alemã Edith Stein converteu-se ao catolicismo e se fez freira carmelita. 

De uma inteligência incomum esta jovem santa foi discípula e depois assistente de Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia. Stein foi também à primeira mulher que defendeu uma tese doutoral de Filosofia na Alemanha.

Perseguida pelos nazistas faleceu aos 51 anos, no campo de concentração de Auschwitz. Era uma mulher de imensa inteligência, sabedoria e fibra moral. Uma grande mística de nosso tempo personifica que fé e razão podem caminhar lado a lado.


Maximiliano Maria Kolbe  (1894-1941)

Foi um frade franciscano conventual da Polónia, fundador da milícia da Imaculada.

Durante a Segunda Guerra Mundial deu abrigo a muitos refugiados, incluindo cerca de 2000 judeus. Em 17 de Fevereiro de 1941 é preso pela Gestapo, já que os nazistas temiam a sua influência na Polónia foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz, la se voluntariou para morrer de fome no lugar de um pai de família que fora condenado pela fuga de um prisioneiro.

Faleceu como sacerdote santo em meio aquele podridão, dando auxilio sacramental e humanamente aos moribundos que o cercavam.


Pio de Pietrelcina (1887-1968)

Sacerdote capuchinho, de origem italiana que recebeu os estigmas de Cristo crucificado. Pesquisas recentes revelam que ele e considerado o santo mais popular de sua terra natal, a Italia.

Foi um confessor incansável, comparável ao Cura D`Ars, de uma profunda configuração ao senhor crucificado, sua fama de santidade se espalhou pelo mundo e através de seu sacerdócio converteu inúmeros corações a Cristo, Jesus.

Faleceu numa pequena cidade chamada San Giovanni Rotondo, na qual viveu praticamente toda sua vida religiosa, ali construiu um hospital e viveu em santidade e em simplicidade.


Gianna Beretta Molla (1922-1962)

Médica italiana, casada e mãe de quatro filhos. 

Na última gestação, aos 39 anos, descobriu que tinha um fibroma no útero. Três opções lhe foram apresentadas naquele momento: retirar o útero doente, o que ocasionaria a morte da criança, abortar o feto, ou, a mais arriscada, submeter-se a uma cirurgia de risco e preservar a gravidez. Não hesitou! Disse: “Salvem a criança, pois tem o direito de viver e ser feliz”!

Deu entrada, para o parto, no hospital de Monza, na sexta-feira da Semana Santa de 1962. No dia seguinte, 21 de abril de 1962, nasceu Gianna Emanuela, a quem teve por breves instantes em seus braços. Sempre afirmou: “Entre a minha vida e a do meu filho salvem a criança!”. 

Faleceu, como decorrência do parto, em 28 de abril de 1962, na sua casa, rodedada dos filhos e do esposo.


Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1995)

Santo espanhol foi o fundador do Opus Dei.

Chamado o apóstolo da Santidade Cotidiana, já antes do Concílio Vaticano II anunciava e pregava que todos os homens e mulheres da terra eram convocados a santidade. Através da obra, fundada a 02 de outubro de 1928, Josemaria se empenhava na santificação dos leigos.

Viveu no turbulento período da Guerra Civil espanhola, foi um orador magnífico e um homem de profunda sabedoria. Esteve no Brasil em 1974 e rezou no antigo Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde hoje se encontra uma imagem do Santo.

Sobre ele João Paulo II disse: São Josemaria foi um mestre na prática da oração, o que considerava uma extraordinária "arma" para redimir o mundo. Recomendava sempre: ""Primeiro, oração; depois expiação; em terceiro lugar, muito "em terceiro lugar", acção"" (Caminho, n. 82). Não é um paradoxo, se não uma verdade perene: a fecundidade do apostolado reside, antes de tudo, na oração e numa vida sacramental intensa e constante. Este é, no fundo, o segredo da santidade e do verdadeiro êxito dos santos. (Da homilia na missa de canonização).


Teresa de Calcutá (1910-1997)

Nascido no Império Otomano e naturalizada indiana, a Beata Teresa de Calcutá é a fundadora das Missionárias da caridade, considerada por muitos a “missionária do século XX”.

Nobel da paz, incansável na piedade e na caridade, esta Beata viveu em um período conturbado para a Ìndia, soube ser o braço misericordioso do Senhor junto aos necessitados. 

Quando da sua morte, em 1997 sua fama de santidade já havia se espalhado pelo mundo, João Paulo II a beatificou em 2003.


Dulce dos Pobres (1914-1992)

Natural de Salvador foi chamada o “Anjo Bom da Bahia”. Comparada a Madre Teresa, Dulce soube viver o amor junto aos pobres e marginalizados da Sé Primaz de nosso país.

Desde os treze anos de idade, depois de visitar áreas carentes, acompanhada por uma tia, ela começou a manifestar o desejo de se dedicar à vida religiosa. Começou a ajudar mendigos, enfermos e desvalidos. Nessa mesma idade, foi recusada pelo Convento de Santa Clara do Desterro, em Salvador, por ser jovem demais, voltando a estudar.

Com o consentimento da família e o apoio de sua irmã, Dulcinha, foi transformando a casa da família num centro de atendimento a pessoas necessitadas.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após se formar professora primária (1932), Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe.

Suas obras caritativas e assistências ultrapassaram as fronteiras brasileiras. Foi indicada ao prêmio Nobel.


João Paulo II (1920-2002)

De origem polonesa, o papa que reinou durante quase 27 anos foi chamado o “peregrino do amor”.

Combateu veementemente o comunismo, sobretudo, na Polônia. Foi um dos líderes que mais viajaram na história, tendo visitado 129 países durante o seu pontificado. Sabia se expressar nos seguintes idiomas: italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, português, ucraniano, russo, servo-croata, esperanto, grego clássico e latim, além do polaco, sua língua patrícia. 

Como parte de sua ênfase especial na vocação universal à santidade, beatificou 1340 pessoas e canonizou 483 santos, quantidade maior que todos os seus predecessores juntos pelos cinco séculos passados.

Em 2 de abril de 2005, faleceu nos aposentos pontifícios devido a sua saúde débil e o agravamento da doença de Parkinson.

Já nos seus funerais -que uniram diversos lideres religioso e políticos- se clamava Santo Súbito! 

Foi canonizado pelo Papa Francisco em abril de 2014.

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