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sábado, 1 de fevereiro de 2014

02 de fevereiro - Solenidade da Apresentação do Senhor no templo e purificação de Maria

 
Presentation in the Temple (Philippe de Champaigne, 1648)

A festa da Praesentatione Domini, que celebramos neste domingo, em unidade com toda Igreja universal, remonta de antigas tradições (houve tempo em que era celebrada em 14 de fevereiro, 40 dias após a Epifania). É lembrada também com uma nuance mariana, assumindo o ‘subtítulo’ de “Festa da Purificação da Bem-aventurada Virgem Maria”. Falando de ‘purificação’, parece-nos estranho atribuí-la a Maria Santíssima, tota pulchra! “Esse termo nem sempre denota algo negativo; nesse trecho do evangelho (Lc 2,22-40), a impureza não é moral, mas ritual (Lv 12,2-4) e significa apenas que, após aqueles ritos, as pessoas eram reinseridas na esfera da vida comunitária, de forma análoga a uma âmbula que, de modo inverso, após ser purificada, deixa o sacrário e pode ser mantida junto com outros objetos”.

Sendo assim, a Festa da Apresentação nos relembra estes dois fatos importantes para o cumprimento ritual judaica: a apresentação do menino no Templo diante do sacerdote com a expiação e a purificação da mãe para reinserção na comunidade judaica. Ambas as práticas são realizadas segundo prescrição da lei mosaica, ocorrendo 40 dias após o nascimento; porém dentro da espiritualidade cristã-litúrgica, a partir a encarnação divina, este rito assume um novo sentido de fé.


Ícone grego da Apresentação do Senhor

Omnipotens sempiterne Deus, maiestatem tuam supplices exoramus, ut sicut Unigenitus Filius tuus hodierna die cum nostrae carnis substantia in templo est praesentatus, ita nos facias purificatis tibi mentibus praesentari. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum, qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti, Deus, per omnia saecula saeculorum”.

Coleta da Festa da Apresentação do Senhor

Antigo santinho retratando a profecia de Simeão

Ao ser levado ao templo por José e Maria, Jesus menino é oferecido ao Senhor Javé: Simeão e Ana, iluminados pelo Espírito Santo, reconhecem no menino frágil e pobre o Messias esperado por Israel e profetizam sobre Ele; são eles portadores da promessa, da esperança de um povo que espera libertação! A circuncisão de Cristo, que é o rito próprio da apresentação do recém-nascido no templo, é um gesto ligado à Páscoa hebraica, memorial da libertação da escravidão. Assim, mesmo cumprindo o ritual judaico, é pela circuncisão do coração transpassado na cruz que a escravidão opressora da humanidade é vencida e a libertação triunfa na vitória da vida sobre a morte. Já assumido a carne humana, pela circuncisão o Filho do Pai Eterno ainda assume a identidade de um povo: passa a pertencer ao povo de Israel, e por vocação eterna, passa a ser o ungido, recebendo o nome de ‘JESUS’, para salvar este mesmo povo e levá-lo (levar-nos) a Terra Prometida! A Festa da Apresentação é a ligação do Natal e da Páscoa de Cristo!

Como é belo olharmos a Liturgia da Igreja não em seus pormenores ou detalhes (por vezes externos), mas em sua totalidade e profundidade, assim descobrindo sua real unidade e beleza!

Representação etíope da Apresentação do Senhor

 “Estamos na presença de um mistério, ao mesmo tempo simples e solene, no qual a Santa Igreja celebra Cristo, o Consagrado do Pai, como primogênito da nova humanidade”, afirma o Papa emérito Bento XVI, na Festa da Apresentação e Dia da Vida Consagrada de 2013. Pelo mistério da vida de Cristo somos hoje, filhos de Deus e membros da Igreja, os portadores da profecia, da esperança, da salvação e da libertação àqueles que ainda jazem entre as trevas, antigas e novas, existenciais, morais e sociais.

Também neste dia, na comemoração litúrgica, costuma-se realizar a bênção das velas. Tão singelo gesto quer, em si, abençoar a luz! É a luz da nossa fé que se une a fé do Cristo e da Igreja; como duas velas que se unem para formarem uma só chama, ardente e destemida! Cristo se nos apresenta como o escolhido de Deus, “Luz que brilha aos gentios para a glória de Israel, vosso povo”; é o Sumo Sacerdote fiel e misericordioso, que acende nossa vida com a graça santificante do Pai.

Apresentação do Senhor: Festa da luz!

Como na solenidade da Epifania, hoje Cristo é apresentado como luz! A tradição católica do Oriente chama esta festa de “συνεδρίαση της ομάδας” (Festa do Encontro), justamente pelo fato de que, sendo na Epifania o Encontro dos Magos na intimidade da Família Sagrada, hoje Cristo se encontra definitivamente com sua missão: ser luz e acender luzeiros no mundo (os santos) e encontrar/reunir no seu coração misericordioso os dispersos da casa de Israel. Hoje, em Cristo e por Maria, Deus faz com a humanidade o seu encontro de salvação, com a promessa da Jerusalém celeste, novo céu e nova terra, nossa morada!

Apresentação do Senhor pela representação africana

Maria encerra em si o sentido desta festa: a Mãe da luz, a toda iluminada, portadora da paz e da esperança, que nos aponta o caminho da luz, tem sua alma transpassada! A espiritualidade desta liturgia não nos encerra nossa visão aqui, mas nos aponta a espada e o sofrimento como decorrência da fé. O mistério da ressurreição e alegria aqui tem seu início: a espada de Maria é a nossa espada; a cruz de Cristo é nossa cruz; a salvação de Cristo é o Seu e o nosso sofrimento.

Salve, ó Virgem, Mãe de Deus, cheia de graça, pois de ti nasceu o sol de justiça, o Cristo, nosso Deus, iluminando os que estão nas trevas.

Alegra-te, ó justo ancião, ao receber em teus braços o libertador das nossas almas, que nos dá a ressurreição.

Vamos também nós ao encontro de Cristo, com cânticos inspirados e acolhamos aquele do qual Simeão viu a salvação.

É aquele que Davi anunciou, o que falou pelos profetas, o que se encarnou por nós e nos instrui com a lei.

Adoremo-lo!”.

Antigo hino litúrgico da Festa da Apresentação

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