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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Sede de Pedro está Vacante





Eis que é chegado o dia!
Dia histórico para a Igreja de Cristo e para todo o mundo, católico ou não!
Um Papa, depois de Celestino V, renuncia à Sede petrina.
Não é covardia. Pelo contrário. É extrema coragem.
O Trono, a glória, os suíços.
Todo o teu temporal não são capazes de te prender por entre os mármores de Pedro?
Sobre ti estão os olhares da humanidade, e tu recusas o poder?
Como novo Celestino entendes a hora de descer e,
livremente desces.
É próprio de quem é Grande, a descida.
Só os Grandes descem.


Pedro, Bento, nós te agradecemos!
No Brasil é a décima sexta hora, em Roma a vigésima.
Hora que se rasga o véu de Pedro.
A Cátedra está vazia!
Lembro-me da tristeza com a morte de João Paulo II,
mas agora é uma santa alegria pelo testemunho silencioso de Bento.
Agora vemos um bispo; um bispo vestido de branco.
Sem sua mantelete, sem a mozeta tingida de sangue.
Sê bendito, nosso Papa emérito, o silêncio e a oração são teus companheiros!


Já não mais pescas; seu anel foi-se perdido;
O Camerlengo o viu pela última vez.
Não pesca, mas ajuda a recolher os peixes!
Ajudas porque sabes: o Mestre está no barco!
Ainda é nosso guia; guia e mestre da oração.
Ensinou-nos a olhar os primeiros Padres;
nos conduziu através das sendas da perene doutrina de Cristo.
Nos fez vislumbrar a glória da Liturgia na simplicidade e na continuidade.


Anel quebrado; Palácio lacrado.
Roma é tomada pelos príncipes.
As pinturas e o Juízo final são preparados para receber os purpurados;
e o futuro Pontífice!
Vamos à Missa Pro eligendo Romano Pontifice?
Por idade, Sodano não preside a reunião “entre chaves”.
Batista Ré toma seu lugar!
E Bento? Até abril fica em Gandolfo.
Parece que gosta deste lugar! Ora et labora.
E depois?
Maria Mater Ecclesiae o acolherá!


A partir desta hora estamos órfãos, mas não sem pai!
Bento continua a nos guiar pela sua oração e testemunho.
Esperamos o novo Pontífice, mas não nos esqueceremos do emérito.
Obrigado, Bento!


Não desces, mas sobes!
Ó vós que sentis com a Igreja,
Olhai o papa que desce!
Que desce para o Alto!
Reconhecemos tua força e bradamos:
Viva o Papa!


Trechos do texto de Pe. Marcelo Tenório.

'Vergelt’s Gott', Santo Padre!


“Com grande trepidação, os Padres Cardeais se unem ao seu redor, Santidade, para manifestar-lhe mais uma vez seu profundo afeto e expressar-lhe viva gratidão por seu testemunho de abnegado serviço apostólico, pelo bem da Igreja de Cristo e de toda a humanidade. [...] Em 19 de abril de 2005, Sua Santidade se inseriu na longa cadeia de Sucessores do Apóstolo Pedro e hoje, 28 de fevereiro de 2013, está prestar a deixar-nos, à espera que o timão da barca de Pedro passe a outras mãos. Assim, prosseguirá a sucessão apostólica, que o Senhor prometeu à sua Santa Igreja, até quando se ouvir sobre a terra a voz do Anjo do Apocalipse que proclamará ‘Já não haverá mais tempo… então o mistério de Deus estará consumado’. Terminará assim a história da Igreja, com a história do mundo, com o advento de novos céus e terra nova. [...] Sim, Padre Santo, saiba que o nosso coração também ardia enquanto caminhávamos juntos nesses últimos oito anos. Hoje, queremos mais uma vez expressar-lhe toda a nossa gratidão. Em coro, repetimos uma expressão típica de sua querida terra natal: ‘Vergelt’s Gott’, Deus lhe pague!” [grifos nossos].


Belíssimas palavras do Cardeal Angelo Sodano na despedida aos cardeais do Papa Bento XVI na Sala Clementina, hoje pela manhã.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Título, vestes e anel de Bento XVI: eis as respostas


Cidade do Vaticano (RV) – O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, realizou na manhã desta terça-feira mais uma coletiva de imprensa, em que esclareceu algumas das muitas dúvidas dos jornalistas.


Uma delas é sobre como Bento XVI será chamado a partir do dia 28 de fevereiro. A resposta é: continuará a chamar-se Sua Santidade Bento XVI, mas foi escolhido também Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito.

Sobre as vestes: branca, simples, sem mantelete. Não são mais previstas os sapatos vermelhos. “Parece que o Papa ficou muito satisfeito com os sapatos que lhe presentearam no México, em Leon”, disse Pe. Lombardi.

Não usará mais o anel do pescador, para o qual o Camerlengo, com o decano, darão o fim que a Constituição prevê.

Sobre o dia de hoje, o Papa o transcorrerá em oração e preparação para a transferência a Castel Gandolfo.

Para a Audiência Geral de quarta-feira, foram distribuídos 50 mil bilhetes. Prevê-se o mesmo esquema: um amplo giro com o papamóvel. Não terá lugar o “beija-mão” – este será feito após a Audiência Geral, na Sala Clementina, para algumas autoridades, como o Presidente da Eslováquia, o Presidente da região da Baviera.

Quinta-feira, às 11h, haverá a saudação aos Cardeais, com o discurso do Decano no início. Às 16h55 (hora local), a partida de carro do pátio de São Dâmaso, saudação dos superiores. No heliporto, haverá a saudação do Cardeal Decano. Às 17h15, a chegada a Castel Gandolfo, onde estarão presentes o Bispo de Albano e outros autoridades. Às 17h30, no Pátio interno o Papa saúda os fiéis – a última saudação pública do Santo Padre. Às 20h, a Guarda Suíça, fecha a porta do Palácio Apostólico, encerrando o serviço para o Papa como chefe da Igreja.
(BF)

fonte: http://pt.radiovaticana.va/news/2013/02/26/t%C3%ADtulo,_vestes_e_anel_de_bento_xvi:_eis_as_respostas/bra-668456

Normas litúrgicas para o tempo de Sede Vacante


Em seu site, padre Paulo Ricardo, pertencente ao clero da arquidiocese de Cuiabá - MT, explicou as alterações temporárias das normas litúrgicas, durante o período de Sede Vacante.

A renúncia do Papa Bento XVI e a consequente vacância da Sede Papal suscitou em toda a Igreja diversas dúvidas de ordem prática: como se fará a escolha do novo Papa, como ele se chamará, como devemos rezar por ele e por Bento XVI? Progressivamente essas questões vem sendo respondidas e agora chegou a vez de saber como a Igreja determina que se reze nas celebrações da Santa Missa durante a vacância.
De maneira clara, a Constituição Apostólica Universi domini gregis, promulgada pelo Bem-aventurado Papa João Paulo II, no dia 22 de novembro de 1996, especialmente em seu número 84, orienta os fieis e a Igreja como um todo sobre como proceder durante o período vacante:
"84. Durante a Sé vacante, e sobretudo no período em que se realiza a eleição do Sucessor de Pedro, a Igreja está unida, de modo muito particular, com os Pastores sagrados e especialmente com os Cardeais eleitores do Sumo Pontífice, e implora de Deus o novo Papa como dom da sua bondade e providência. Com efeito, seguindo o exemplo da primeira comunidade cristã, de que se fala nos Atos dos Apóstolos (cf. 1,14), a Igreja universal, unida espiritualmente com Maria, Mãe de Jesus, deve perseverar unanimamente na oração; deste modo, a eleição do novo Pontífice não será um fato disjunto do Povo de Deus e reservado apenas ao Colégio dos eleitores, mas, em certo sentido, uma ação de toda a Igreja. Estabeleço, portanto, que, em todas as cidades e demais lugares, ao menos naqueles de maior importância, após ter sido recebida a notícia da vacância da Sé Apostólica e, de modo particular, da morte do Pontífice, depois da celebração de solenes exéquias por ele, se elevem humildes e instantes preces ao Senhor (cf. Mt 21,22; Mc 11,24), para que ilumine o espírito dos eleitores e os torne de tal maneira concordes na sua missão, que se obtenha uma rápida, unânime e frutuosa eleição, como o exigem a salvação das almas e o bem de todo o Povo de Deus."
Além desse documento, a Igreja oferece ainda a Instrução Geral do Missal Romano e o próprio Missal Romano, os quais direcionam os sacerdotes nas celebrações litúrgicas, especialmente modificadas para esse momento. Abaixo, as Orações Eucarísticas já com as devidas modificações. De maneira geral, a orientação dada pela Igreja é uma só: os católicos devem permanecer unidos em oração, rogando a Deus para que Ele dê à sua Igreja um pastor digno, ‘que vele solícito’ sobre ela e sobre todos nós.

Orações Eucarísticas:
Oração Eucarística I
Nós as oferecemos pela vossa Igreja santa e católica: concedei-lhe paz e proteção, unido-a num só corpo e governando-a por toda a terra. Nós as oferecemos também (pelo vosso servo o papa N.) por nosso bispo N. e por todos os que guardam a fé que receberam dos apóstolos.
Oração Eucarística II
Lembrai-vos, ó Pai, da vossa Igreja que se faz presente pelo mundo inteiro: que ela cresça na caridade (com o papa N. ,) com o nosso bispo N. e todos os ministros do vosso povo.
Oração Eucarística III
E agora, nós vos suplicamos, ó Pai, que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e a salvação ao mundo inteiro. Confirmai na fé e na caridade a vossa Igreja, enquanto caminha neste mundo: (o vosso servo o papa N.,) o nosso bispo N. com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.


Orações para a eleição do Papa ou Bispo:

Antífona de entrada (1 Sm 2, 35)
Farei surgir um sacerdote fiel,
que agirá segundo o meu coração e minha vontade.
Eu lhe darei uma casa que permaneça para sempre
e ele caminhará na minha presença todos os dias


Oração do dia
Ó Deus, pastor eternos,
Que governais o vosso rebanho com solicitude constante,
No vosso amor de Pai
Concedei à Igreja um pastor que vos agrade pela virtude
E que vele solícito sobre nós.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
Na unidade do Espírito Santo.


Sobre as oferendas
Ó Deus, sede compassivo para conosco,
e dai-nos, pelas oferendas que vos apresentamos,
a alegria de ver à frente de vossa Igreja
um pastor do vosso agrado.
Por Cristo, nosso Senhor.


Antífona da comunhão (Jo 15, 16)
Fui eu que vos escolhi e enviei
para produzirdes fruto,
e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor.


Depois da comunhão
Refeitos, ó Deus,
pelo sacramento do corpo e do sangue de vosso Filho,
dai-nos a alegria de possuir um pastor
que dirija o vosso povo no caminho da virtude
e faça penetrar em seu coração a verdade do evangelho.
Por Cristo, nosso Senhor.



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Motu Proprio Normas nonnullas de Bento XVI



Motu Proprio Normas nonnullas

Carta Apostólica
em forma de Motu Proprio
sobre algumas mudanças nas normas sobre
a eleição do Romano Pontífice


Com a Carta Apostólica De aliquibus mutationibus in normis de electione Romani Pontificis, como Motu Proprio em Roma no dia 11 de Junho de 2007,  terceiro ano do meu Pontificado, estabeleci algumas normas que, revogando aquelas prescritas no número 75 da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis promulgada no 22 de fevereiro de 1996 pelo meu predecessor, o Beato João Paulo II, re-estabeleceram a norma,  sancionada pela tradição, segundo a qual para a válida eleição do Romano Pontífice é sempre necessária a maioria dos dois terços dos votos dos Cardeais eleitores presentes.
Considerada a importância de garantir o melhor desempenho do que compete, embora com ênfase diferente, à eleição do Romano Pontífice, em particular uma mais certa interpretação e atuação de algumas disposições, estabeleço e prescrevo que algumas normas da Constituição apostólica Universi Dominici Gregis e tudo o que eu mesmo dispus na referida Carta apostólica sejam substituídas pelas normas a seguir:
n. 35. “Nenhum Cardeal eleitor poderá ser excluído da eleição seja ativa que passiva por nenhum motivo ou pretexto, permanecendo firme o prescrito no n. 40 e no n. 75 desta Constituição.”
n. 37. “Além do mais Ordeno que, a partir do momento em que a Sé Apostólica esteja legitimamente vacante, espere-se por quinze dias inteiros os ausentes antes de começar o Conclave; deixo, no entanto, ao Colégio dos Cardeais a faculdade de antecipar o começo do Conclave se consta a presença de todos os Cardeais eleitores, como também a faculdade de protelar, se existem motivos graves, o começo da eleição por alguns outros dias. Passados, porém, no máximo, vinte dias do começo da Sé Vacante, todos os Cardeais eleitores presentes devem proceder à eleição”.
n. 43. “A partir do momento em que se dispor o começo dos procedimentos da eleição, até o anúncio público da eleição do Sumo Pontífice ou, pelo menos, até quando assim o ordenar o novo Pontífice, os lacais da Domus Sanctae Marthae, como também, e sobretudo a Capela Sistina e os ambientes destinados para as celebrações litúrgicas, deverão permanecer fechados, sob a autoridade do Cardeal Camerlengo e com a colaboração externa do Vice Camerlengo e do Substituto da Secretaria de Estado, às pessoas não autorizadas, como estabelecido nos números seguintes.
Todo o território da Cidade do Vaticano e também a atividade ordinária dos Escritórios que têm sua sede dentro do âmbito deverão ser regulados, por certo período, a fim de garantir a privacidade e o livre desenvolvimento de todas as operações relacionadas com a eleição do Sumo Pontífice. Em particular, se deverá prover, também com a ajuda de Prelados Clérigos da Câmara, que os Cardeais eleitores não sejam abordados por ninguém no percurso da Domus Sanctae Marthae até o Palácio Apostólico Vaticano”.
n. 46, parágrafo 1. “Para atender as necessidades pessoais e de ofício relacionadas com a realização das eleições, deverão estar disponíveis e portanto convenientemente alojados em locais adequados, dentro dos limites referidos no n. 43 da presente Constituição, o Secretário do Colégio dos Cardeais, que atua como secretário da assembleia eleitoral; o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias com oito cerimoniários e duas Religiosas encarregadas da Sacristia Pontifícia; um eclesiástico escolhido pelo Cardeal Decano ou pelo Cardeal que lhe substitui, para que o ajude no próprio ofício.”
n. 47. “Todas as pessoas listadas no n. 46 e n. 55, § 2 º da presente Constituição Apostólica, que por qualquer motivo e em qualquer tempo tomassem conhecimento por meio de quem for de quanto direta ou indiretamente diz respeito aos atos próprios da eleição e, de modo especial, ao que se refere ao escrutínio na mesma eleição, estão obrigados a sigilo absoluto com qualquer pessoa fora do Colégio dos Cardeais eleitores: para isso, antes do começo dos procedimentos, deverão prestar juramento na modalidade e na fórmula indicadas no número seguinte.”
n. 48. “As pessoas referidas no n. 46 e no n. 55, parágrafo 2 º da presente Constituição, devidamente avisadas ​​sobre o significado e a extensão do juramento que farão, antes de começar os procedimentos da eleição, diante do Cardeal Camerlengo ou de outro Cardeal delegado pelo mesmo, na presença de dois Protonotários Apostólicos de Número Participantes, no devido tempo deverão pronunciar e assinar o juramento segundo a seguinte fórmula:
Eu, N. N. prometo e juro de observar o segredo absoluto com qualquer pessoa que não faça parte do Colégio dos Cardeais eleitores, e isso para sempre, a menos que não receba uma especial faculdade para isso data expressamente pelo novo Pontífice eleito ou pelos seus Sucessores, sobre tudo o relacionado direta ou indiretamente às votações e aos escrutínios para a eleição do Sumo Pontífice.
Prometo também e juro de abster-me de usar qualquer instrumento de gravação ou de audição ou de visão de tudo o que, no período da eleição, acontece no âmbito da Cidade do Vaticano, e especialmente de tudo o que direta ou indiretamente de qualquer forma tem relação com os procedimentos relacionados com a mesma eleição.
Declaro de fazer este juramento, consciente de que uma infração desse vai resultar para mim na pena canônica da excomunhão “latae sententiae” reservada à Sé Apostólica “.
Assim Deus me ajude e estes Santos Evangelhos, que toco com a minha mão. “
n. 49. “Celebradas de acordo com os ritos prescritos o funeral do Pontífice, preparado tudo o que é necessário para o desenrolar regular da eleição, no dia estabelecido, nos termos do n. 37 desta Constituição, para o início do Conclave todos os Cardeais  se reunirão na Basílica de São Pedro no Vaticano, ou em outro lugar segundo a oportunidade e as necessidade do tempo e do lugar, para participar de uma solene celebração eucarística com a Missa votiva pro eligendo Papa. (19) Isso deverá ser feito de preferência nas primeiras horas da manhã, para que à tarde possa acontecer o que está prescrito nos números seguintes da mesma Constituição”.
n. 50. “Da Capela Paulina do Palácio Apostólico, onde estarão recolhidos em hora conveniente da parte da tarde, os Cardeais eleitores com hábito coral irão em procissão solene, invocando com o canto do Veni Creator a assistência do Espírito Santo, à Capela Sistina do Palácio Apostólico, lugar e sede do processo eleitoral. Participarão da procissão o Vice Camerlengo, o Auditor Geral da Câmara Apostólica e dois membros de cada um dos Colégios dos Protonotários Apostólicos de Número Participantes, dos Prelados Auditores da Rota Romana e dos Prelados Cléricos da Sala”.
n. 51, parágrafo 2. “Portanto, será responsabilidade do Colégio dos Cardeais, trabalhando sob a autoridade e a responsabilidade do Camerlengo adjunto da Congregação particular da qual no n.7 da presente Constituição, que, dentro de tal Capela e dos locais adjacentes, tudo esteja previamente disposto, também com a ajuda de fora do Vice Camerlengo e do Substituto da Secretaria de Estado, de modo que a regular eleição e a confidencialidade da mesma sejam tuteladas.”
n. 55, parágrafo 3. “Se qualquer violação desta norma acontecesse, saibam os autores que sofrerão a pena de excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica”.
n. 62. “Abolidos os modos de eleição chamados per acclamationem seu inspirationem e per compromissum, a forma de eleição do Romano Pontífice será daqui pra frente unicamente per scrutinium.
Estabeleço, portanto, que, para a válida eleição do Romano Pontífice seja necessário ao menos dois terços dos sufrágios, computados com base aos eleitores presentes e votantes.”
n. 64. “O procedimento do escrutínio acontece em três fases, a primeira das quais, que pode ser chamada pré-escrutínio, compreende: 1) a preparação e a distribuição das cédulas pelos Cerimoniários – chamados na Sala junto com o Secretário do Colégio dos Cardeais e com o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias – que entregarão ao menos duas ou três a cada um dos Cardeais eleitores; 2) o sorteio, entre todos os Cardeais eleitores, de três Escrutinadores, três encarregados de recolher os votos dos doentes, denominados brevemente infirmarii, e de três Revisores; tal sorteio é feito publicamente a partir do último Cardeal Diácono, que extrai a seguir os nove nomes daqueles que deverão realizar tais tarefas;  3) se no sorteio dos Escrutinadores, dos Infirmarii e dos Revisores, saem os nomes dos Cardeais eleitores que, por doença ou outro motivo, estão impedidos de realizar tais tarefas,  sejam retirados no lugar deles os nomes de outros sem impedimentos. Os primeiros três sorteados serão os Escrutinadores, os segundos três Infirmarii, os outros três Revisores”.
n. 70, parágrafo 2. “Os escrutinadores somam todos os votos que cada um deu, e se ninguém alcançou ao menos os dois terços dos votos naquela votação, o Papa não foi eleito; se porém, um tiver obtido ao menos os dois terços, tem-se a eleição do Romano Pontífice canonicamente válida”.
n. 75. “Se as votações a que se referem os nn. 72, 73 e 74 da mencionada Constituição não tiverem êxito, seja dedicado um dia à oração, à reflexão e ao diálogo; nas seguintes votações, observada a ordem estabelecida no n.74 da mesma Constituição, terão voz passiva somente os dois nomes que no precedente escrutínio tinham obtido o maior número de votos,  nem se poderá renunciar da disposição que para a válida eleição, também nestes escrutínios, é pedida a maioria qualificada de ao menos dois terços de sufrágios dos Cardeais presentes e votantes. Nestas votações, os dois nomes que têm voz passiva não tem voz ativa”.
n. 87. “Acontecida canonicamente a eleição, o último dos Cardeais Diáconos chama na sala da eleição os Secretário do Colégio dos Cardeais, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e dois Cerimoniários; portanto, o Cardeal Decano, ou o primeiro dos Cardeais por ordem e antiguidade, em nome de todo o Colégio dos eleitores pede o consenso do eleito com as seguintes palavras: Aceitas as tua eleição canônica como Sumo Pontífice? E apenas recebido o consenso, pede-lhe: Como queres ser chamado? Então o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, com função de notário e tendo dois Cerimoniários por testemunhas, redige um documento sobre a aceitação do novo Pontífice e o nome escolhido por ele”.
Este documento entrará em vigor imediatamente após a sua publicação no L’Osservatore Romano.
Decido isto e estabeleço, não obstante qualquer disposição em contrário.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 22 de fevereiro, no ano de 2013, o oitavo do meu Pontificado.

Benedictus PP XVI

Texto em italiano divulgado pela Santa Sé. Tradução de Zenit.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Reflexão sobre o II Domingo da Quaresma


“Há muitos por aí que se comportam como inimigos da Cruz de Cristo”.

Caríssimos irmãos e irmãs na fé,

Chegamos ao II domingo da Quaresma, este santo itinerário de conversão nos apresenta na liturgia de hoje, mais especificamente nas palavras do evangelho: o Senhor que convoca Pedro, João e Tiago para subir ao monte e rezar.


O monte, a montanha é na visão teológica o “lugar da manifestação”. E é para lá que o Senhor se retira. Depois de ter rezado sua feição, seu rosto se transfigura e ao seu lado surgem Moisés e Elias.

Nestes personagens históricos, vemos que a revelação e a oração de Cristo Jesus estão baseadas na lei e nos profetas, como nos diz o Prefácio deste solene domingo: “Tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E com o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão na Cruz, chegará à glória da ressurreição”.

Ao ter com essa visão Pedro, a rocha, admirado exclama: “Mestre, é bom estarmos aqui”. E a quaresma é este período em que devemos nos encontrar com o Senhor. Somos convocados a aumentar nossa intimidade com ele. A visita-lo no sacrário, a ter com ele nas Sagradas Escrituras e na celebração dos sacramentos. A encontra-lo por meio das diversas práticas de piedade, mas, sobretudo pelo exercício milenar do jejum, da penitência e da caridade.

Se vivemos íntimos com Senhor, se temos uma fé enraizada em Cristo diremos: É bom estarmos aqui. É bom contigo estar, Senhor. Mesmo nos momentos de dificuldade, nos momentos de dor, de aridez, de desânimo... É bom aqui estar! Pois o Senhor é nossa força, o Senhor é nossa luz e salvação, como canta o salmista.


Mas na quaresma não há melhor lugar para estar –mais santo, mais íntimo, mais profundo- que aos pés da Cruz. Os homens e as mulheres desta terra se comportam e vivem contrários a cruz de Cristo, alerta São Paulo. Todavia, nós devemos encontrar na Cruz de Cristo, um manancial, uma fonte de vida que nos anima e nos dá ânimo para viver a fé e construir um mundo mais humano e cristão.

Para o mundo a cruz é sinal de contradição, mas, para nós é elemento de salvação! Só aquele que se põem aos pés da Cruz e do Crucificado encontrará o verdadeiro e real caminho de santificação. Este caminho é tortuoso e ardo, mas, é um caminho de amor.

E quando nos colocarmos aos pés da Cruz, encontraremos lá a Mãe de Deus e nossa. Ela está junto de nós e nos ensina a encontrar em Cristo a razão de nossa vida, a alegria de nossa existência e a força para a santificação. 

Que a Virgem Santíssima nos inspire a viver com intensidade essa quaresma!

Último Ângelus de Bento XVI: Omnes cum Petro!


Realmente, Bento XVI é um homem formidável! Não precisamos mais elencar as tantas atribuições que foram levantadas nos últimos tempos. Com Pedro nós sempre estaremos!
Neste domingo II da Quaresma, 24 de fevereiro, o Santo Padre (como em todos os momentos, muito sereno e contente) rezou da janela do Palácio Apostólico, a oração do Ângelus Domini. A praça de San Pietro estava lotada de fiéis, como havia-se previsto. Segundo a Sala de Imprensa, cerca de 200 mil pessoas estavam presentes; ela [a praça] “se enchia desde as primeiras horas da manhã aos poucos foi sendo tomada por religiosas, sacerdotes, turistas, mas principalmente por famílias com crianças e muitos jovens”. A multidão acorre à Pedro, para vê-lo e receber sua bênção e reafirmar seu amor profundo por Cristo e sua Igreja no testemunho admirável do Papa.


Em sua mensagem dominial o Papa refletiu brevemente acerca do Evangelho deste dia, de São Lucas, que narra a Transfiguração do Senhor. Reiterou, assim, a precedência da oração e da contemplação na vida espiritual do cristão. “O evangelista Lucas coloca especial atenção para o fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em uma alta montanha na companhia de Pedro, Tiago e João. O Senhor, que pouco antes havia predito sua morte e ressurreição (9:22), oferece a seus discípulos antes da sua glória. E mesmo na Transfiguração, como no batismo, ouvimos a voz do Pai Celestial, “Este é o meu Filho, o Eleito ouvi-lo” (9:35). A presença de Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo, que faz um “êxodo” novo (9:31), não para a terra prometida, como no tempo de Moisés, mas para o céu”, explicitou o Papa.


Como dele é sucessor, o Santo Padre dedicou atenção especial à figura do apóstolo Pedro dentro do evento da Transfiguração, dizendo que “podemos tirar um ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual todo o trabalho de apostolado e de caridade é reduzido ao ativismo. Na Quaresma, aprendemos a dar bom tempo para a oração, pessoal e comunitária, o que dá ânimo à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é isolar-se do mundo e suas contradições, como no Tabor desejava Pedro, mas a oração reconduz ao caminho, à ação. A vida cristã - eu escrevi na Mensagem para a Quaresma - consiste em uma subida contínua da montanha para encontrar-se com Deus, antes de cair de volta trazendo o amor e o poder dele derivado, a fim de servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus”.
E algo que me tocou profundamente (realmente me surpreendeu e comoveu) pela sua tamanha simplicidade e autenticidade, foi o fato de o Papa estabelecer um vínculo belíssimo entre a figura de São Pedro e si mesmo, quando afirmou que “o Senhor me chama a “subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, ao contrário, se Deus me pede isso é precisamente para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual eu fiz até agora, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças”.


Na saudação em várias línguas, Bento XVI falou também em português: “Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Ângelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos”.


Para quem quiser ver na íntegra o último Ângelus de Bento XVI: http://www.youtube.com/watch?v=ZQZIvbRQ4ps.

No sábado, 23 de fevereiro, o papa prometeu aos cardeais uma maior “proximidade espiritual”  de sua parte após concretizar sua renúncia histórica, prevista para o próximo dia 28, e fez uma advertência sobre os “males deste mundo, o sofrimento e a corrupção”.
Na quarta-feira, 27 de fevereiro, o pontífice realizará a última audiência geral que, na ocasião, acontecerá na Praça de São Pedro. No dia 28, o último de seu pontificado, Bento XVI receberá às 11h na Sala Clementina do palácio apostólico os cardeais para uma despedida.
Bento XVI partirá em seguida de helicóptero para Castengandolfo, a 30 km de Roma. Às 20h (16h de Brasília), sua renúncia ao papado se tornará efetiva.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

De um grande homem não esperava senão um ato de grande humildade



Tomou-nos com demasiada surpresa e perplexidade a renúncia do Papa Bento XVI à Cátedra de São Pedro. Logo, encontrar-se-á vaga a sede do Vigário de Cristo na terra.
Os homens e mulheres de boa vontade, e também os de má vontade, das mais variadas partes do mundo se perguntam: Por que Ratzinger renunciou? O que, verdadeiramente, levou o Romano Pontífice a abdicar do direito de governar à Igreja Católica?

Há muitos por aí: teólogos, professores, feirantes, pedreiros, baderneiros que se tornaram especialistas em “análises de conjuntura papal”. São os que saem por ai, ao leu, dando sua opinião e levantando as mais absurdas hipóteses e teorias sobre a ação de Bento XVI: há quem diga que é doença fatal, desgaste pelo banco vaticano, pela venerável Cúria Romana, pelos escândalos sexuais e tantas, tantas outras mentiras e grosserias.
Creio eu que o papa teve sua saúde debilidade pelo peso da idade, mas, também pelas intempéries que cercam o timão da barca de Pedro. Assistimos com angústia sua última “missa do galo”, na qual notávamos um olhar perdido e um profundo cansaço físico. Bento XVI já não é mais o mesmo desde aquele abril de 2005.

Tendo consciência de suas fraquezas e debilidades físicas o papa decidiu por bem renunciar. Na leitura da carta de renúncia ele alegou seus motivos, mas, que não foram suficientes para muitos. Estes jamais conseguiram compreender a essência deste gesto. Vivendo em mundo onde custa renunciar ao “eu” pelo “nós”, onde é impensável deixar de lado nossos prazeres mesquinhos pelo bem comum, ou pelo crescimento do outro, Bento XVI sempre será incompreendido. Afinal, quem tem um coração dilatado de amor por Cristo e por sua Igreja não será facilmente entendido.

Bento XVI se fez “humilde servo da vinha do Senhor”, se fez pequeno, se abaixou, mas, encontrou de seus filhos ainda maior devoção e filialidade. Grande dom de Deus para Igreja Universal, o papa Bento não sairá pela porta dos fundos, mas, se retirará do sólio Pontifício como um homem a ser imitado, um homem a quem queremos bem e por quem devemos rezar.

Este amado pastor nos ensina novamente que a Obra é de Deus e não nossa. Que quem guia a Igreja é a Trindade e não nossos caprichos humanos. Oxalá este exemplo possa nos fazer perceber que somos “simples e humildes trabalhadores da vinha do Senhor”, e que, por amor, estamos a sua disposição. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

João Paulo II e de Bento XVI: a via da expiação e da oração


Por Pe. Anderson Alves*
Diocese de Petrópolis/RJ.


A Quaresma é para os cristãos um tempo de preparação para a festa da Páscoa. Durante esse período nos lembramos os 40 anos que Israel passou no deserto, os 40 dias de jejum, oração e penitência do Senhor antes de começar o seu ministério público. O deserto é um forte imagem bíblica: é o lugar do silêncio, da pobreza, do encontro com Deus; para atravessá-lo, é necessário descobrir e levar só o que é essencial para a vida. O deserto é também um lugar de solidão, de morte, no qual a tentação é sentida com mais força. É ainda um retrato do mundo atual, no qual as pessoas se tornaram áridas, sem coração, por causa do abandono da fé no verdadeiro Deus.

No deserto, Jesus é tentado pelo diabo três vezes. Todas as tentações são reduzidas ao querer colocar-se no centro de tudo, no lugar de Deus, removendo-o da própria existência ou tentando submetê-lo à nossa vontade. Todas as tentações são, pois, contra a fé, uma ameaça à confiança no verdadeiro Deus.
Para vencer as tentações é necessário colocar a Deus no centro das nossas vidas. E isto é a conversão que a Quaresma nos propõe. Essa se realiza quando analisamos a própria vida diante de Deus, buscando conhecer quem realmente somos, quais são nossas capacidades e limitações, perguntando-lhe sinceramente: o que queres de mim, Senhor? Isto não é fácil, porque muitas vezes não temos tempo para Deus, ou não queremos ouvir a sua voz. A tentação de nos colocar no centro de tudo é sempre muito forte.
Somos chamados na Quaresma a colocar nossas vidas diante de Deus com humildade. E é isso que o Papa Bento XVI fez: analisar repetidamente a sua consciência diante de Deus (conscientia mea iterum atque iterum coram Deo explorata, disse o Papa com uma linguagem agostiniana), perguntando-lhe com total disponibilidade: o que queres de mim? E o Senhor respondeu-lhe, de modo que o Papa chegou à certeza (ad cognitionem certam perveni) do que Deus lhe pedia. E Bento XVI respondeu generosamente, renunciando ao seu ministério para o bem da Igreja, a fim de que outro homem com mais força física do que ele possa continuar conduzindo a Igreja, que é de Cristo, no caminho da Nova Evangelização do deserto que se tornou nosso mundo.
O Papa fez assim um gesto surpreendente, porque foi um ato de fé e de humildade, e infelizmente não sabemos mais o que é viver de fé e o que seja a humildade. Hoje estamos sempre dispostos a julgar, porque não temos a coragem de analisar nossas vidas diante de Deus, como o Papa fez. É mais fácil refugiar-se em juízos superficiais. Neste período de conversão, devemos nos lembrar de que só Deus é onisciente, somente Ele pode julgar as intenções das pessoas, e por isso devemos ter muito respeito para com a consciência dos outros.



O Papa João Paulo II ao seu tempo analisou a sua vida diante de Deus que lhe pediu de viver os últimos anos de seu ministério como uma forma de expiação pelos nossos pecados; e a Bento XVI, Deus pede uma vida dedicada inteiramente à oração. Quem somos nós para julgá-los? Estes dois homens, provavelmente os dois melhores papas de história da Igreja moderna, tiveram a coragem de colocar-se diante de Deus, que lhes indicou o caminho da reconciliação e da oração. E essas duas coisas, a expiação e a oração, são as coisas essenciais da vida sacerdotal. E esses grandes homens de Deus a propõem a todos os sacerdotes. Quem somos nós para condená-los?
Além disso, eles ensinam a todos os cristãos a ter ousadia para entrar no deserto da intimidade com Deus, buscando seriamente a conversão, que inicia com o confronto da própria vida com a vontade de Deus. Isso nos faz reconhecer nossas capacidades e o que Ele realmente quer de nós. Portanto, devemos ter muita alegria e agradecer a Deus por esses homens que sempre serviram ao Senhor com generosidade e total dedicação.
E não devemos ser enganados por falsos profetas do mundo atual. Aqueles que agora criticam o Papa Bento XVI, por ser ancião e ter renunciado são os mesmos que criticaram João Paulo II por ser ancião e não ter renunciado. Os que se esquecem de Deus, estão sempre preparados para apedrejar ao seu próximo, mesmo com acusações contraditórias contra quem não fez cometeu nenhum pecado. Na história da Igreja há Papas santos que não renunciaram ao seu ministério e também um Papa santo (Celestino V) que renunciou ao mesmo.
Os cristãos que buscam a verdadeira conversão agradecem a Deus pelos ministérios brilhantes e complementares de João Paulo II e Bento XVI, que tiveram a humildade, a fé e a coragem de seguir a própria consciência, analisada ​​à luz de Deus; e agora rezam por Bento XVI, mostrando-lhe muito amor e agradecendo a Deus pelo bem que ele fez pela Igreja e pelo mundo durante todos estes anos. Papa Bento XVI sempre ensinou que a Igreja é uma grande família, a família dos filhos de Deus em caminho.
E qual o filho que, tendo um pai com 86 anos, que acabou de passar por uma cirurgia cardíaca, o crítica por não poder mais trabalhar?
Peçamos ao Senhor que nos ajude a ser verdadeiros cristãos, que saibam amar uns aos outros como Jesus nos amou, nunca colocando-nos no lugar de Deus, julgando ou criticando quem sempre foi um pai exemplar e dedicado.

* Enviado pelo autor, disponível também em: http://www.presbiteros.com.br/site/joao-paulo-ii-e-de-bento-xvi-a-via-da-expiacao-e-da-oracao/

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cardeal Darmaatmadja não irá ao Conclave

O Sr. Cardeal Julius Riyadi Darmaatmadja, 78 anos, Arcebispo Emérito de Jacarta, na Indonésia, anunciou que não irá participar do Conclave, segundo informou nesta quinta-feira, 21 de fevereiro, a agência AsiaNews


Dom Julius alegou problemas de saúde física e afirmou que sua opção é "livre e pessoal".

Contatado por telefone na casa jesuíta Emmaus, um local de repouso para sacerdotes idosos e prelados, em Ungaran, uma cidade ao centro de Java, o cardeal destacou a "deterioração progressiva" de sua condição física, desde que ele deixou a arquidiocese da capital, ao completar 75 anos.

"A principal dificuldade é a vista", disse ele em voz baixa, à AsiaNews. A incapacidade de ler textos e documentos é um obstáculo muito grande para trabalhar de forma independente e serena.

"Estou convencido", disse o cardeal, "não ser capaz de me sentar com os outros cardeais e votar para o novo Papa, por isso eu decidi não ir a Roma para esse evento muito importante e histórico para a Igreja".

Ele acrescentou ainda que "compreende plenamente" a decisão do Papa Bento XVI de renunciar ao Pontificado por motivo de saúde. "Uma experiência que vivi na minha pele, quando era arcebispo de Jacarta e decidi renunciar quando atingi 75 anos", porque para ser bispo de uma cidade metropolitana é necessário "estar boa saúde física".

Em conclusão, o cardeal confessa seu "profundo pesar" pela impossibilidade física de ir a Roma e participar do Conclave, mas está convicto da decisão, que tem como certa, também para não "quebrar o protocolo" e dificultar o trabalho da assembleia cardinalícia. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

I Domingo da Quaresma: tentação e redenção.


Neste I Domingo da Quaresma nós, católicos romanos, iniciamos nossa caminhada penitencial-quaresmal com a reflexão das tentações de Jesus no deserto (Lc 4,1-13). Mas o que foram essas tentações? O que elas significam para nós hoje? Como vencê-las e o que buscar verdadeiramente? Este artigo que escrevo, tirei das ideias bases do II capítulo do livro do Santo Padre Bento XVI Jesus de Nazaré. Junto com as ideias centrais do Papa (não por pretensão) apresento algumas conclusões minhas, feitas a partir da leitura atenta e minuciosa.
Jesus, no seu batismo, tem todo o mistério da sua vida revelado. Ao entrar na fila do batismo dos pecadores, se faz um de nós, não sendo pecador, mas tomando sobre si nossas misérias. Cumpriu tudo isto, mais tarde, plenamente na cruz. O Pai revela seu Filho amado, cumprindo a plenitude do amor na ressurreição, e o Espírito Santo (Lc 4,1a) desce em forma de pombo. Perceba, “como uma pomba”, ou seja, é semelhante, parecido com uma pomba, porque a figura do Espírito de Deus é misteriosa em sua essência; pelas coisas materiais pode se assemelhar, mas nunca ser de fato.


Mas o que está no centro aqui é outra coisa, não o batismo. Mas pelo seu batismo simbólico, o Espírito lhe da uma inspiração primeira; e qual é? Ir para o deserto para ser tentado (Lc 4,1b). Mas o Filho do homem, Salvador do gênero humano, ser tentado? Exatamente. Feito homem Ele quer sentir na sua carne o drama humano, as tentações dos homens e mulheres deste mundo. Quer ser tentado, encontrar-se com a ovelha desgarrada e ferida, para então tomá-la nos ombros e reconduzi-la para sua casa como Bom e Doce Pastor zeloso. Só sendo Deus para tamanha atitude!
Enfim, no deserto os demônios o tentam (Lc 4,2) e anjos o servem (Mt 4,11b). É a dialética humana! Nossa vida mortal e factível acontece nesse paradoxo: anjos e demônios! Anjos nos ajudam; demônios nos oferecem algo mais vislumbrante aos olhos. Anjos nos apresentam a vontade de Deus; demônios nos dão os prazeres do mundo. Anjos ajudam o Reino a acontecer em nós; demônios em legião o derrubam. A vida do homem na terra é assim; a vida espiritual do cristão é uma eterna luta, uma guerra, travada continuamente.
Jesus ficou 40 dias no deserto em jejum e profunda oração (Lc 4,2). Isso nos faz lembrar os 40 anos que o povo de Israel passou no deserto em busca da Terra Prometida, de onde brotariam leite e mel em abundância; dos 40 dias que Moisés se preparou para receber as tábuas dos mandamentos e ensinar, conduzir seu povo na justiça; dos 40 dias que Abraão preparou-se para o sacrifício derradeiro de seu filho. Parece-nos que Jesus em seus 40 dias percorre toda a história do povo eleito, da humanidade e também a toma sobre os ombros; suporta-a, assume-a, redime-a.


Passamos então às tentações. A primeira consiste em transformar as pedras em pães (Lc 4,3). Era uma dupla tentação. Primeiro porque Ele tinha fome (Lc 4,2b), e se tivesse pão ao seu alcance a saciaria; depois porque se as transformasse, subjugaria seu poder (que era sobrenatural) ao mal, ao demônio. Mas o intuito do Reino que Jesus traz não são os milagres. Jesus não veio ao mundo para realizar milagres, mas veio para encontrar pessoas, apresentá-las à proposta do Reino e revelar a face paternal de Deus. Jesus não se curva à tentação de satanás, e di-lo que o pão, o verdadeiro pão interessa aos retos de intenção. Milagre por milagre não leva a nada. Mas depois Ele mesmo se faria pão para nós, se multiplicaria em todos os altares do mundo. E este milagre até hoje acontece, e acontecerá até o fim dos tempos. Jesus não quer pessoas atrás dos seus milagres, mas sim atrás do seu verdadeiro alimento: “Fazer a vontade do Pai” (Lc 22,42).


Na segunda tentação o demônio promete ao Senhor em retiro o domínio sobre toda a terra, sob uma imposição: ajoelhar-se aos seus pés e o adorá-lo (Lc 4,6-7). Para que Cristo cederia a tal tentação se conhecia a vontade de seu Abbá? Ele sabia que depois de ressuscitado haveria de ter todo domínio, mas não apenas sobre a terra, e sim sobre o céu e a terra. Era um domínio de poder sobrenatural; e perante Seu nome teria dobrado todo joelho, na terra, no céu e no inferno.
Jesus é forte, espiritualmente (porque era o próprio Deus) e fisicamente; isto pelo jejum e oração, armas fortes contra a tentação, e expulsa o demônio da sua companhia! Porém esta tentação retorna aos tempos atuais. O demônio pede não a adoração a si diretamente, mas através da proposta pela escolha do que é mais racional para os homens, mais organizado, planificado. É o relativismo moderno. Propõe o mais “justo, igual” para todos, onde reine o bem-estar presente das pessoas e a desvalorização com a real essência do homem. Assim, nós decidimos o que deve fazer um “redentor”. É realmente triste constatarmos o crescimento disto hoje!


Na ultima tentação satanás, de modo engenhoso, toma um versículo da Escritura e o distorce bruscamente. Tira o sentido original, inspirado por Deus, e a interpreta do seu jeito. Esta é uma tentação mais que atual: como é cômodo e fácil interpretarmos a Bíblia do nosso jeito, para satisfazer nossos desejos e vontades. Ainda mais. Como é mais satisfatório tirarmos Deus do seu lugar de excelência em nossa vida e o adaptarmos de acordo com as próprias necessidades, subjugando-O à nossa vontade. Em certo ponto Feuerbach tinha razão, quando dizia ser Deus a projeção do próprio homem. Mas razão o tem em relação à situação atual dos ateus que nem razões sabem e têm para os serem. Mas para quem realmente crê a situação é outra. E Feuerbach passa longe de deter a verdade que realmente é verdade!
Enfim, Jesus não se jogou do pináculo do templo (Lc 4,9), pois este era um pedido com segundas intenções do demônio. Mas na cruz não. No madeiro santo Ele abraçou livremente a vontade do Pai e se jogou no maior pináculo da existência, a morte. E o Pai, como profetizara confusamente o demônio na tentação do deserto, O tomou pelas mãos e o ressuscitou, encheu sua humanidade do Espírito Santo e, até hoje, o faz reinar vivo, glorioso no céu à sua destra.


Vencendo as tentações no deserto, Cristo nos apresenta o verdadeiro bem do homem: o rosto misericordioso de Deus. Que nesta Quaresma que iniciamos possamos seguir os passos de Cristo, vencer o mal atual e presente, para esperançosos reinar com Ele no último dia.
16 de fevereiro de 2013.
Vésperas do I Domingo da Quaresma.

Primeiras impressões de um católico conservador

               


Antes de tudo, apenas esclareço que não sou filósofo, em sentido estrito. Ou seja, não tenho grande dedicação à pesquisa e nem profunda reflexão neste campo, ao ponto de ser chamado de filósofo. Tenho apenas algumas pinceladas necessárias de uma graduação recém-terminada. Em segunda estância, escrevo aqui como um católico! Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam! E antes da crítica reacionária, aceito plenamente o Vaticano II! Porque esta afirmação? Apenas a título de esclarecimento a algum desavisado de plantão que possa ler o título com más intenções. O que aqui descrevo e transmito não é dogma, é doxa.
Porque do conceito ‘conservador’ no título referido? Em primeiro porque assim me considero! Aceitando plenamente o Vaticano II, também aceito a Tradição da Igreja como depósito da fé da mesma de dois mil anos. Dois mil anos! É muita história e riqueza espiritual! Assim, (agora no âmbito estritamente litúrgico, pois é a Santa Missa o cerne deste artigo) creio que muitos gestos, ritos, palavras, ações contidas no Rito litúrgico Ordinário da Santa Missa antes do Vaticano II têm sua importância de complemento e aprofundamento do mistério eucarístico (ou vice-versa, pra quem entender o que quis dizer). Assim gosto de me inserir nesta palavra: conservador. Conservando o que é importante, não anularemos o atual, mas o complementaremos (segundo o correto entendimento. Correto!). Percebo que hoje, os católicos que “liturgicamente” não são conservadores, são em geral aqueles que desprezam o rito antigo, acham que o novo é atualização (prestes a cair numa profunda ruptura) ou mesmo nem conhecem aquilo que acontecia antes do Concílio (digo por experiência do que já vi – na China, não no Brasil!).


Com isso, não pretendo também dizer que, na questão litúrgica, temos partidos subdivididos em visões ou interesses. Não! A essência é a mesma; o mistério é o mesmo: Cristo se oferece continuamente na Eucaristia pela humanidade! Não somos e nem poderíamos ser uma Igreja subdividida em partidos, já que a libertação já ocorreu totalmente no calvário de Nosso Senhor. Corremos atrás da unidade pedida por Cristo; e antes de pensar em ecumenismo, pensemos na unidade dentro da própria Igreja em torno do báculo de Pedro! Mas mesmo assim, gosto de considerar assim: conservador.
Agora vamos ao ponto filosófico: conservador ou tradicional? Prefiro conservador, para dar destaque a este sentido de conservar aquilo tudo que pode ajudar e que hoje é, de certo modo, deixado de lado. Lembro-me das ditosas aulas de filosofia da cultura quando se falava das correntes do século XIX e XX. Quando se dividiu a apresentação de seminários, vi o tema ‘tradicionalismo’. Fiquei eufórico, imaginava já o esplendor da Igreja, da Liturgia intacta, da pomposidade, das grandes catedrais, altares... Mas na apresentação saiu tudo diferente! Que graça!


O tradicionalismo foi um movimento filosófico-teológico que pregava o conhecimento humano (razão) impossibilitado de conhecer verdadeiramente (!) as realidades espirituais. Ele visava à oposição ao fideísmo, que pregava o contrário (a fé exacerbada sem a razão). Os expoentes do tradicionalismo são Bautain e Bonnetty (tradicionalismo moderado). Enfim, tanto tradicionalismo quanto fideísmo foram condenados pelo Vaticano I (I, não II). Atualmente alguns usam ‘tradicionalismo’ para falar dos grupos doutrinário-litúrgicos que defendem a interpretação justa do Vaticano II segundo o sonho de João XXIII e não dos cardeais reacionários-políticos; ou mesmo para falar de Lefebvre e Mayer ou os não separados (?) Fedeli, Plínio e Clá, e suas devidas companhias. Enfim, parece “politicagem” demais. Para evitar isso e a confusão com aquela heresia discorrida rapidamente antes, prefiro evitar. Gosto de ‘conservador’.
Tudo isso só pra contextualizar. Gosto de contextualizações, história, essas coisas. Creio que seria um bom professor! Ou escritor? Mas isso não vem ao caso. Não agora.
Caros leitores que leram essa pataquada toda acima. Tudo isso para explicar o motivo integral do título e dizer-lhes minha alegria, que já dura uma semana e promete perdurar: pela primeira vez, assisti uma Santa Missa celebrada no Rito Tridentino! (e para os que ainda não entenderam ou não retornaram ao título, por isso “primeiras impressões...”). Isso aconteceu venturosamente num local não menos digno de tanta graça: na Basílica do Mosteiro de São Bento, no centro antigo de São Paulo. Mas alguns se perguntam: mas só agora assististe à Missa Tridentina? Sim. Saí do exílio barriga-verde no começo deste ano e vim parar em terras de garoa a pouco!


Antes que acabe por falar asneiras, vamos ao que me propus escrever: as primeiras impressões que tive. Na verdade não vi surpresas externas. Nada é tão diferente do que já tinha visto em vídeos, imagens e afins. O rito era aquele que trazem aqueles antigos ‘missais cotidianos’ que tinha contato. Mas algo foi inédito: a emoção de, sentado distraído no coro do mosteiro, ouvir aquele suntuoso órgão e, ao mesmo tempo, ver entrando em procissão um distinto sacerdote de barrete e pianetta roxa. Nunca mais esquecerei esta cena. Foi magnífico! Confesso que neste mesmo momento verteu-me uma lágrima sincera. Quando eu olhava para o lado direito, via piedosas mulheres de véu (e, inacreditavelmente ou não, jovens, compreenderam?, jovens mulheres com seus maridos e filhinhos pequenos); erguendo os olhos contemplava aquelas enormes imagens dos apóstolos, parecendo veras colunas da Fé indefectível da Igreja (sim, pois a Igreja é santa, e não santa e pecadora – assunto para o próximo artigo) que assistiam fixos tal mistério (a imagem de São Paulo me encabulava: ele olhava para fora como que indicando: “depois não se esqueça da missão!” e ainda me pergunto: “qual será esta missão?”. Creio que a estou realizando agora).


O momento foi inesquecível. Não vou transcrevê-lo, porque logo preciso terminar esse artigo. Não fui sozinho. Na saída do mosteiro e na volta para casa algumas questões apareceram da boca de alguns (e do pensamento engenhoso também): “não entendi nada!”, “achei muito morto, só o padre falava!”, “o que o padre falava mesmo?”, “as pessoas que estavam lá nem entenderam nada!”, e ainda na hora da Santa Missa, no instante da Epístola um cristão pergunta: “já começou a Missa?”. Inocências a parte, digo, pois, senhores e senhoras:
Para mim foi um momento único! Quem não gostou, não é obrigado a assistir novamente (e digo a todos que pensam ou que já pensaram o descrito no parágrafo anterior). Creio que as pessoas que lá estavam (que não era um grupo muito grande, mas ‘raleavam’, com diz o sulista, os bancos da Basílica), estavam convictas do que queriam, atentas ao que acontecia e sabendo muito bem o que se passava! Não entendeu o que o padre disse? Só procurar estudar um pouco mais da língua oficial da sua Igreja e logo mais saberá! Mas quero terminar para não exceder demais!


Saio realizado. Minha primeira impressão do Rito Tridentino foi muito positiva. Bem celebrado, com piedade e devoção, atentamente, com toda dignidade e sobriedade possível. Nas Missas que participo do Rito Ordinário, por incrível que pareça, participo muito melhor! Enxergando visivelmente a extrema adoração e respeito pela Sagrada Eucaristia do Rito Extraordinário, faço de minha participação no Rito Ordinário digna da mesma e extrema adoração e respeito. Afinal é o mesmo Cristo, ontem, hoje e sempre! No Rito Extraordinário, Ordinário e no novo Movimento Litúrgico!
Quiçá pudera eu participar novamente, inúmeras vezes. E assim o quero fazer. Percebi nitidamente como os dois Ritos se complementam.
Perdão pelas intervenções dos parênteses pelo corpo do texto; creio que herdei o jeito de escrever de Escrivá, de tanto lê-lo. Teria eu muitíssimo mais coisas a discorrer, mas não quero cansá-los, diletos, com meus sonhos visionários por vir. Ao escrever isto tudo, olhei para o gramado à minha frente e, pensei (algo suscetível para as críticas): “Quem dera, se o mundo fosse conservador como eu!”.


Agora sim, termino reafirmando: são realmente muito otimistas as primeiras impressões de um católico conservador!